Indolência não leva à América

Poucas vezes ouvimos coletivas tão fortes de um treinador aqui no Rio Grande do Sul nos últimos anos. O discurso indignado de Fernandão (que tem razão na reclamação, mas muita parcela de culpa nisso tudo) contra a falta de atitude do Internacional no primeiro tempo do empate contra o Sport mostra bem o clima dentro do vestiário do Beira-Rio: tenso, longe da tranquilidade que o time precisa para crescer. Só não dá para dizer que é desconfortável porque, como o próprio técnico disse, há uma perigosa zona de conforto na qual os mais consagrados dentro do elenco estão habitando. Não chega a ser novidade: há tempos que sabemos que o elenco colorado precisa sofrer uma renovação.

O primeiro tempo do Inter foi que motivou o discurso indignado de Fernandão. De fato, foram os piores 45 minutos da equipe em muito tempo. Tudo começou em uma imperdoável firula de Leandro Damião, que tentou fazer de letra um gol que estava praticamente marcado, bastando empurrar a bola para as redes. Com o 0 a 0 no placar, é não só temerário: é uma irresponsabilidade. Está claro que o recado de Fernandão deu na coletiva foi para o centroavante, quando afirmou que o time achava que ganharia quando quisesse.

O que se viu no primeiro tempo foi basicamente um massacre do Sport, especialmente na segunda metade. Após perder duas chances no começo, o Inter foi aos poucos sendo controlado, depois dominado, levando uma surra passivamente, sem esboçar reação. O gol de Rithely veio numa infiltração não marcada de forma infame pelo sistema defensivo gaúcho, e já era merecido. A seguir, os pernambucanos perderam outra chance, fizeram 2 a 0 e quase saíram para o intervalo com uma vantagem de três gols.

A etapa final foi diferente por dois motivos: o Inter teve um pouco mais de atitude (ou não sairia do Beira-Rio, tal o nível de irritação de seus torcedores) e o Sport ficou atrás, sem a volúpia do primeiro tempo, buscando segurar a vantagem. Mas a equipe gaúcha seguiu desorganizada, correndo muito e criando pouco. Não foram tantas chances claras assim, embora o inegável domínio territorial. Cassiano descontou, a equipe não chegou a deixar o Sport sem respirar, mas chegou ao empate. Quando Rodrigo Moledo cruza como um lateral direito para o gol de Leandro Damião, temos um claro exemplo de como a pressão foi desorganizada, sem uma imposição técnica ou tática.

O resultado é péssimo, mesmo diante das circunstâncias. O Internacional só ganhou um de seus dez últimos jogos. Mesmo jogando em casa nesta rodada, contra um adversário da zona de rebaixamento, não avançou em relação a Vasco, Cruzeiro e Botafogo, e ainda perdeu terreno para o São Paulo. Se o objetivo eram 6 pontos contra Sport e Bahia (não mais que a obrigação), a meta já está frustrada antes mesmo do segundo jogo.

Já o Sport, embora tenha conquistado um ponto no Beira-Rio, também sai decepcionado. A equipe pernambucana viu a vitória de perto, e deixou de matar o jogo no primeiro tempo. O empate mantém o Leão na zona de rebaixamento por ao menos mais uma rodada. Mas já são três jogos sem derrota, e um desempenho razoável, que mantém acesa a esperança de não retornar à Série B em 2013.

FICHA TÉCNICA
INTERNACIONAL (2): Muriel; Édson Ratinho, Rodrigo Moledo, Índio e Zé Mário (João Paulo); Rodrigo Dourado (Cassiano), Guiñazu, Fred e D'Alessandro; Forlán (Lucas Lima) e Leandro Damião. Técnico: Fernandão
SPORT (2): Saulo; Cicinho, Bruno Aguiar, Edcarlos e Renê (Williams); Tobi, Rithely (Rivaldo), Moacir e Hugo; Gilsinho (Willian Rocha) e Felipe Azevedo. Técnico: Waldemar Lemos
Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre (RS); Data: domingo, 16/09/2012, 18h30; Árbitro: Héber Roberto Lopes (Fifa-PR); Público: 5.448; Renda: R$ 38.030,00; Gols: Rithely 35 e Gilsinho 41 do 1º; Cassiano 17 e Leandro Damião 30 do 2º; Cartão amarelo: Edcarlos, Cicinho, Gilsinho e Willian Rocha

Comentários

Vine disse…
O lance da letra do Damião foi pra cancelamento de contrato. Inclui-se nessa análise o ego inflado dele, sempre reclamando quando não recebe a bola.