Resultados imediatos e mostrar evolução: os dois desafios de Mano Menezes no Cruzeiro

A manobra feita pelo Cruzeiro ao trazer Mano Menezes é razoavelmente arriscada. Não pela qualidade dele como treinador, mas pelo timing que seus trabalhos costumam ter. Se escapar do fiasco de ser rebaixado como atual campeão brasileiro é a única meta que ainda resta à Raposa em 2015, o óbvio seria Gilvan Tavares apostar em um treinador estilo "bombeiro", como Celso Roth, especialista em ajeitar a casa rapidamente. Mano, apesar de gaúcho como Roth, é de um estilo bem diferente neste aspecto. E nem por isso sua escolha é um equívoco - ao contrário, é muitas vezes fugindo do óbvio que se consegue os grandes saltos.

Seja como for, o fato é que todos os bons trabalhos de Mano Menezes vieram após um certo tempo de casa. Antes de levar o Grêmio da segunda divisão para a final da Libertadores, ele correu risco de demissão algumas vezes, como no fiasco diante da Anapolina, ou algumas outras derrotas duras naquela Série B de 2005. No Corinthians, sua trajetória da primeira passagem foi semelhante: ele tirou o clube do segundo escalão nacional para o título da Copa do Brasil em 18 meses, mas antes viu sua equipe ser eliminada antes dos mata-matas no Paulistão de 2008. Na Seleção Brasileira, é quase um consenso que ele foi demitido justamente no momento em que o time começava a encaixar, depois de mais de dois anos de muito mais erros do que acertos. Mesmo no ano passado, quando não fez um grande trabalho, antes de levar o Corinthians à Libertadores viu a equipe não terminar o Paulistão sequer entre os oito melhores. Começos complicados fazem parte de seu cartel quase que invariavelmente.

A diferença é que, agora, Mano não terá tanto tempo para começar a dar resultados. Ao contrário: seu impacto positivo terá de ser imediato. Mas há bons motivos para acreditar que ele vai conseguir superar as dificuldades iniciais. Em primeiro lugar, porque ele já assumiu Grêmio e Corinthians em situações similares, de grave crise. Sabe, portanto, administrar um vestiário tenso, de ambiente deteriorado. Segundo: há material humano para tirar o Cruzeiro da crise. Se é verdade que ter Charles, Marinho e Vinícius Araújo não é o mesmo que ter Lucas Silva, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, é inegável que o time mineiro pode terminar o campeonato bem acima do atual modestíssimo 16º lugar. É praticamente impossível o Cruzeiro render menos do que vem rendendo. Isso facilita a aceitação de um trabalho até mesmo medíocre, mesmo porque a exigência para este final de ano é baixa: fazer 23 pontos em 17 jogos (45% de aproveitamento), chegar aos 45 e respirar aliviado.

O complicado vai ser exigir paciência de uma torcida que já é normalmente exigente, e que agora ainda ganha o ingrediente do medo de uma queda à segunda divisão. Mano contou com paciência de seus dirigentes em Porto Alegre e em São Paulo; caiu na Seleção porque não teve o mesmo respaldo necessário de que comandava a CBF à época. Não adianta Gilvan trazer o técnico como salvador e não dar a ele todo o suporte necessário, bancá-lo nos momentos mais tensos. Por mais que sua imagem junto aos cruzeirenses seja péssima, o dirigente máximo do clube terá que assumir uma postura forte, pois pode haver tempos ainda mais difíceis que os dias atuais antes de as coisas darem resultado. Pela carreira de Mano, é uma tendência, até.

Outra questão interessante em relação a esta contratação é notar a evolução que Mano apresentará em sua volta ao futebol brasileiro. Clubes como São Paulo e Santos cogitaram contratá-lo no primeiro semestre, mas ele negou, alegando que passava por um período de reciclagem. Foi à Europa, estudou, procurou renovar suas ideias - e ele andava precisando se renovar, mesmo. Talvez uma equipe despedaçada não seja o cenário ideal para implantar algo inovador demais, mas em 2016, com permanência na elite garantida, quem sabe, podemos esperar um Mano Menezes interessante, renovador, como o que o Grêmio projetou para o futebol brasileiro há pouco mais de dez anos. Aí sim, poderemos dizer que o Cruzeiro acertou em cheio ao contratá-lo.

Comentários