A escalação que custou a última chance

É impossível saber como teria sido o jogo se Aránguiz tivesse entrado atuando como segundo homem e Alex desde o início como titular. Mas é líquido e certo que a formação escolhida por Abel Braga, com o chileno adiantado e Valdívia como titular, deu errado, e era previsível que desse. Foi esse erro que custou ao Inter ao menos a chance de um resultado melhor em Belo Horizonte. Afinal, jogando assim, no primeiro tempo, o time gaúcho foi amplamente dominado pelo Cruzeiro, tomou 2 a 0 e comprometeu totalmente suas possibilidades no jogo - tanto que nem a melhora na etapa final serviu para evitar a derrota.

O curioso é que Abelão já várias vezes pecou por entrar "pra dentro deles" em jogos importantes, nos quais um pouco de cautela faria muito bem. Ontem, se viu o contrário: um exagero de cuidados que travou sua equipe. Tirando a entrada de Valdívia no posto de Alex, eu já imaginava que ele fosse cometer o erro de escalar dois volantes e Aránguiz mais adiantado. É algo que sempre defendi, antes de ser colocado em prática. O chileno rende menos neste posto, perde o fator-surpresa e tira do time sua capacidade de ser imprevisível. O Inter cai de rendimento nesta formação. Com Aránguiz na terceira função, perdeu para São Paulo, Atlético Mineiro e Cruzeiro, todos jogos diretos de tabela. Ganhou de um Grêmio emergencial, do Goiás com gol de chiripa e do desesperado Palmeiras.

A atuação do primeiro tempo foi bisonha para quem precisava vencer uma partida tão difícil e importante. O Colorado até apresentou uma razoável segurança nos primeiros minutos, mas tomou o gol e desabou. Aránguiz, num raro erro grave (e numa rara atuação muito fraca), perdeu para Marcelo Moreno tentando enfeitar, se atirou pretextando falta e viu o boliviano marcar. O time não reagiu, tomou o segundo e só não saiu goleado porque o próprio Cruzeiro cometeu o pecado de não forçar o ritmo. Só houve uma conclusão perigosa, de Rafael Moura, na única boa jogada de Aránguiz em toda a partida. Valdívia e D'Alessandro simplesmente não existiram, e aí também vemos que a culpa não foi só do esquema, mas de individualidades que afundaram.

Com Alex no posto de Wellington, o 4-2-3-1 foi desmanchado em favor da formação tradicional. O experiente de 32 anos entrou mais pilhado que o normal. Foi um dos protagonistas da falta (muito bem) ensaiada que quase rendeu um gol de D'Ale aos 4 minutos, marcou seu golaço aos 10 e deixou Valdívia na cara de Fábio aos 16. Mas foi só: Marcelo Oliveira deu robustez ao meio com Nílton e o Cruzeiro não correu mais riscos, dos 20 minutos até o final. Lembremos ainda que Willian desperdiçou a chance de matar o jogo pouco antes do gol de Alex, após Juan cometer um pênalti absolutamente desnecessário sobre Marcelo Moreno. Jogar apenas 16 minutos contra o Cruzeiro no Mineirão, e nesses 16 minutos ainda cometer um pênalti, não é o suficiente, definitivamente, para vencer lá. O Grêmio, lembremos, jogou bem por 80 e não conseguiu.

A derrota praticamente sacramenta o bi do Cruzeiro e coloca o Internacional obrigatoriamente numa outra disputa: segurar a vaga na Libertadores. O momento ainda é positivo, a vantagem para o 5º colocado é de quatro pontos, mas a disputa será duríssima. Há seis times nesta briga, separados por seis pontos. Destes, o Inter ainda jogará contra todos, o que, para quem está à frente, não é algo tão bom assim. Serão três jogos em casa (Corinthians, Fluminense e Atlético Mineiro) e três fora (São Paulo, Grêmio e Fluminense). Uma tabela dura, um objetivo que não é tão simples, mas é bem mais palpável que bater o Cruzeiro no Mineirão com uma escalação equivocada.

Estádio lotado, mais uma derrota

Em jogos como o de ontem é que pesam os 13 anos sem títulos do Grêmio. Estádios lotados significam grandes jogos, grandes jogos significam grandes objetivos, grandes objetivos significam grandes responsabilidades. Para um clube mentalmente frágil pela seca, 46 mil pessoas apoiando pode ser sinônimo de ansiedade, mais que propriamente uma injeção de confiança. Dos dez jogos de maior público da história da Arena, o Grêmio venceu só três. E não é problema do novo estádio: a final do Gauchão de 2011, a eliminação para a Universidad Católica naquele mesmo, a derrota para o Palmeiras em 2012, o empate com dois a mais no Gre-Nal de despedida do Olímpico, todos, ocorreram no bairro da Azenha. O problema é do clube mesmo, de sua falta de títulos, não de estádio, ou deste time atual.

Ontem, o Grêmio fazia uma partida equilibrada contra um grande time, que é o São Paulo. Um São Paulo muito superior ao das últimas rodadas, mesmo sem Rafael Tolói e Álvaro Pereira na zaga, pois tinha Alan Kardec no lugar do desequilibrado Luís Fabiano no ataque. Em uma grande tarde de Kaká, o Tricolor Paulista teve seus momentos de domínio no primeiro tempo, mas as duas melhores chances foram do Grêmio, as quais os dois zagueiros são-paulinos tiraram em cima da linha. Houve alternância de domínios e boas chances para os dois lados. Um jogaço, em suma.

Aí começou o segundo tempo, a ansiedade pelo mau retorno do intervalo começou a aparecer e o pênalti que quebrou a longa invencibilidade de Marcelo Grohe foi a gota d'água. A combinação desvantagem-erros de arbitragem-irritação pelos erros de arbitragem foi fatal: o Grêmio teve apenas uma chance clara de gol no segundo tempo. A torcida pressionar o juiz faz parte, mas o time esquecer de jogar por causa disso não dá. Giuliano mais uma vez entrou mal, Alán Ruiz entrou tarde demais. E um importante resultado escapou das mãos.

O problema do Grêmio parece mais psicológico que técnico nestas ocasiões importantes dentro de casa (foi bem fora contra Atlético e Fluminense, jogos tão importantes em termos de tabela quanto o de ontem). Ainda assim, não dá para cair no desespero: o time segue vivo na briga, foi favorecido pelos resultados paralelos ruins de Inter, Atlético e Fluminense, tem um jogo vencível em casa na próxima quarta, tem padrão de jogo e vem mostrando consistência. Segue um forte candidato ao G-4. Mas a concorrência é dura, e vacilos como o de ontem não podem se repetir.

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