Na Copa das Copas, a final das finais

O Itaquerão é a casa dos dramas e glórias da Argentina nesta Copa. Primeiro foi aquele drama contra a Suíça, quando Messi tirou um coelho da cartola e deixou Di María livre para fazer um gol salvador três minutos antes de a decisão ir para os pênaltis. Hoje, a partida efetivamente foi para os pênaltis. E deu Argentina de novo, desta vez com o goleiro Romero como herói, pegando duas cobranças que inevitavelmente lembraram Goycochea, o mito do gol platino de 1990. Naquela Copa, como nesta, o anfitrião era um multicampeão que caiu nas semifinais. E a outra equipe que chegou à decisão foi a Alemanha, exatamente como agora.

No tango desta tarde-noite, sobrou drama nos minutos finais e faltou emoção no restante do jogo. Holanda e Argentina fizeram uma semifinal com cara de final de Copa do Mundo. Ninguém concedia espaços a ninguém, ninguém arriscava mais do que devia, todos cumpriam seu papel tático com extremo cuidado. Havia pouco espaço para o improviso. As defesas levaram vantagem sobre os ataques quase que o tempo todo. Nomes como Garay, Mascherano, Vlaar e Kuyt foram muito mais destacados que Robben ou Messi.

Van Gaal praticamente repetiu o time do começo da Copa, no 3-5-2, com a única diferença de ter Kuyt, e não Janmaat, na lateral direita. Não deu muito certo: a Argentina teve o controle do meio no primeiro tempo. Faltava, porém, criatividade e contundência para furar o bloqueio holandês. Sabella pensou certo: sem Di María preferiu garantir a segurança de seu meio-campo colocando Enzo Pérez, que fez uma boa partida na marcação e no apoio ao ataque, embora jogasse torto pelo lado esquerdo, tendo sempre de puxar para a perna direita, o que atrasava demais as ações ofensivas. Ele não é meia de origem, claro.

Sabella acertou ao escalar os três volantes porque eles dificultavam e muito a armação dos contragolpes holandeses. Era esperado que o time Van Gaal esperasse num primeiro momento, tentando aproveitar os erros argentinos para matar o jogo desta forma. Sem essa possibilidade, a Holanda ficava trancada. Mas com tanta gente marcando e poucos tentando criar (e ainda por cima bem marcados), a partida ficou maçante, com poucos lances de perigo.

No segundo tempo, a situação mudou com a entrada de Janmaat no lugar de Martins Indi. Blind foi para a zaga, passando a dar uma melhor saída de bola para a equipe laranja. Kuyt foi para a esquerda, a equipe holandesa adiantou sua marcação e passou a jogar no campo argentino. O panorama do primeiro tempo se invertia: agora, era a Holanda quem propunha sem criatividade, e a Argentina quem se fechava esperando uma chance de matar o jogo. Com Messi bem marcado, porém, a jogada de velocidade não saía. Di María seguia fazendo falta. Pressão, mesmo, só nos minutos finais. Robben teve a bola do jogo aos 44 do 2º tempo, mas o monstruoso Mascherano salvou a pátria.

A Holanda seguiu melhor no primeiro tempo da prorrogação, mas a Argentina reequilibrou o jogo a partir da entrada de Maxi Rodríguez. Tanto que a melhor chance da etapa final foi de Palacio, que tomou a decisão equivocada: em vez de matar a bola e fuzilar Cillessen, tentou encobrir o goleiro holandês de cabeça, sem ter equilíbrio para tal conclusão. O jogo estava decidido a ir para os pênaltis, e desta vez a frieza da equipe laranja não se se repetiu, como diante da Costa Rica: Romero defendeu duas cobranças e pôs a Argentina de novo na final.

A melhor Copa do Mundo dos últimos tempos terá uma decisão à sua altura. Alemanha e Argentina farão pela terceira vez a final do maior torneio do futebol mundial, desde já a decisão mais repetida da história. A chegada de ambas à decisão em nada surpreende. Era precisamente a final em que eu apostava antes mesmo de a Copa começar: a que reúne a melhor seleção do mundo contra a seleção do melhor jogador dos nossos tempos.

Para este jogo de domingo, a Alemanha chega melhor, com uma equipe mais forte e mais descansada (quase não se cansou nas semifinais, enquanto os argentinos foram aos pênaltis e ainda tiveram um dia a menos de descanso). A Argentina, porém, parece ter acertado de vez a sua defesa, o que era antes um ponto fraco da equipe. Garay, Demichelis e Mascherano, sem falar em Zabaleta, Rojo e Romero, foram absolutamente perfeitos nos últimos jogos. Há quatro jogos os hermanos não sofrem gols. Ou seja: não se trata mais de um jogo entre um time perfeito contra outro com problemas, dependendo de jogadas individuais que cobrissem falhas na retaguarda. A Argentina chega à final sem a incrível qualidade coletiva dos alemães, mas também sem furos.

Em tempo:
- Que lindo poder ver Holanda e Argentina jogando com seus uniformes tradicionais, e não nesse chatíssimo padrão monocromático que a FIFA insiste em impor. Copa do Mundo é tradição, e os uniformes são as identidades históricas das seleções. Descaracterizá-los é um crime.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Semifinal
9/julho/2014
HOLANDA 0 x ARGENTINA 0
Local: Itaquerão, São Paulo (BRA)
Árbitro: Cuneit Çakir (TUR)
Público: 63.267
Decisão por pênaltis: Holanda 2 (Robben e Kuyt) x Argentina 4 (Messi, Garay, Agüero e Maxi Rodríguez)
Cartão amarelo: Martins Indi, Huntelaar e Demichelis
HOLANDA: Cillessen (6,5), Vlaar (6,5), De Vrij (7) e Martins Indi (5,5) (Janmaat, intervalo - 6,5); Kuyt (7), De Jong (6) (Clasie, 16 do 2º - 6), Wijnaldum (6), Sneijder (5,5) e Blind (6,5); Robben (6,5) e Van Persie (4,5) (Huntelaar, 5 do 1º da prorrogação - 5,5). Técnico: Louis van Gaal
Pênaltis: Vlaar (defendido), Robben (gol), Sneijder (defendido) e Kuyt (gol)
ARGENTINA: Romero (8,5), Zabaleta (6,5), Demichelis (7,5), Garay (8) e Rojo (6,5); Mascherano (8,5), Biglia (6,5), Pérez (7) (Palacio, 35 do 2º - 6) e Messi (6,5); Lavezzi (5,5) (Maxi Rodríguez, 10 do 1º da prorrogação - 6,5) e Higuaín (5,5) (Agüero, 36 do 2º - 5,5). Técnico: Alejandro Sabella
Pênaltis: Messi (gol), Garay (gol), Agüero (gol) e Maxi Rodríguez (gol).

Comentários

Sancho disse…
"- Que lindo poder ver Holanda e Argentina jogando com seus uniformes tradicionais, e não nesse chatíssimo padrão monocromático que a FIFA insiste em impor. Copa do Mundo é tradição, e os uniformes são as identidades históricas das seleções. Descaracterizá-los é um crime."

Obrigado! Não sou só eu.
Sancho disse…
Notaste que as duas levaram três calções?
Vicente Fonseca disse…
Percebi no caso da Holanda. A Argentina também?