Um desafio e Luisito, por favor

A atuação do Uruguai diante da Costa Rica foi, na prática, inexplicável. Porém, há sempre que se buscar algum tipo de justificativa para uma partida tão abaixo da média. A apatia do time diante dos costarriquenhos, justamente em uma estreia de Copa do Mundo, é inaceitável, mas é sabido historicamente que contra adversários mais fortes a Celeste cresce. Era previsível que melhorasse o seu desempenho diante da Inglaterra, um desafio bem maior. E não só por isso, por precisar de desafios, mas principalmente por Luisito Suárez.

O Uruguai é um país pequeno, sem tantas opções assim, que não pode prescindir daquele que, hoje, é talvez o melhor centroavante do mundo. A diferença do time com e sem ele é imensa, como ficou provado hoje à tarde no Itaquerão. Suárez não é apenas um ganho técnico imenso, mas um ganho anímico. Um jogador que contagia os companheiros com muita atitude, raça e entrega. Seu choro abraçado a Diego Pérez nos minutos finais foi comovente por isso, e aumenta de significado se levarmos em conta que este foi seu primeiro jogo desde a cirurgia no menisco.

A partida em São Paulo foi espetacular, com todos os ingredientes de uma decisão em Copa do Mundo. Com os dois times precisando vencer, o jogo foi lá e cá. Tabárez montou a Celeste num losango, com o meio mais robusto que no jogo de Fortaleza, enquanto Hodgson manteve o mesmo time que perdeu para a Itália, mas com Rooney numa função que costumava exercer no Manchester City, um pouco mais recuado, como último homem do meio.

E funcionou, de início, a estratégia inglesa. Com intensa movimentação dos quatro homens de frente e Gerrard armando o jogo de trás com qualidade, a Inglaterra ocupou o campo uruguaio. Teve uma grande chance em falta batida por Rooney que raspou a trave de Muslera. A partir dos 15 minutos, porém, o Uruguai saiu de trás e adiantou sua marcação. Passou a vencer quase todas as divididas no meio, onde destacou-se o gigantesco baixinho Egidio Arévalo Ríos. Ainda havia problemas no último passe para Cavani e Suárez, mas era evidente que a trinca de meias formada por González, Rodríguez e Lodeiro funcionava melhor do que a formação da estreia, com Stuani e Forlán.

Quando Rooney cabeceou no travessão, aos 31, o Uruguai dominava a partida. Foi um lance isolado. Sete minutos mais tarde, Suárez marcou o gol que os celestes tanto sonhavam nestes quatro anos, em combinação de seus dois grandes atacantes: uma jogada iniciada numa ótima roubada de Lodeiro, pegando a defesa inglesa desarrumada, continuada num cruzamento perfeito de Cavani para Luisito cabecear com enorme categoria e colocar o Uruguai em vantagem. Um gol marcado pela emoção de quem voltava de uma lesão que quase lhe tirou da Copa do Mundo.

A questão era saber como voltaria o Uruguai para o segundo tempo, já que diante da Costa Rica a volta do intervalo foi um desastre. Desta vez, ocorreu o contrário: a Celeste retornou do vestiário disposta a matar o jogo, teve chances claríssimas de marcar, mas não conseguiu. E isso era perigoso, já que o time inglês tem qualidade e viria para cima. A partir dos 10 minutos, a pressão foi cada vez mais intensa, e a equipe de Tabárez, apesar de se defender bem, não dispõe de um velocista para puxar contra-ataques. Hodgson trocou suas peças de frente para ganhar fôlego e conquistou um merecido empate aos 29, com Rooney. Um gol que mantinha a Inglaterra viva na Copa, e era trágico para o Uruguai.

Com o empate conquistado àquela altura da partida e uma torcida em chamas empurrando o time no Itaquerão, a Inglaterra parecia mais perto da virada que de sofrer um segundo gol. Mas novamente pecou diante de Suárez, o que é fatal. No primeiro gol, ele se desmarca com imensa facilidade e ingressa livre para o cabeceio na área inglesa. No segundo, Gerrard dá uma casquinha no tiro de meta de Muslera que mata a defesa e deixa Suárez livre para fuzilar Hart, aos 39. Um novo empate seria impossível.

A vitória recoloca o Uruguai na Copa. Com 3 pontos, a Celeste torce por uma vitória da Itália amanhã diante da Costa Rica. Neste caso, poderá talvez empatar com os italianos na última rodada, caso a Inglaterra (que ainda tem chances matemáticas) derrote os costarriquenhos na rodada decisiva. Mas mais do que a matemática, é o aspecto anímico que deixa o Uruguai vivíssimo. A partida de hoje era praticamente um mata-mata, e a equipe charrua bateu uma grande seleção no drama, na raça e na qualidade individual de seu extraordinário centroavante. Ganha muita força para o difícil jogo da próxima terça-feira.

Quanto à Inglaterra, mais uma vez não jogou mal, mas perdeu ao enfrentar uma seleção mais experiente e com jogadores melhores na frente. Esta seleção britânica pode dar bastante trabalho em 2018, com estes jovens talentos mais tarimbados. Por agora, cair em um grupo da morte deve ter sido mesmo fatal.

Em tempo:
- Alguém sentiu falta de Lugano? A defesa uruguaia melhorou sem ele.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo D - 2ª rodada
19/junho/2014
URUGUAI 2 x INGLATERRA 1
Local: Itaquerão, São Paulo (BRA)
Árbitro: Carlos Velasco (ESP)
Público: 62.575
Gols: Suárez 38 do 1º; Rooney 29 e Suárez 39 do 2º
Cartão amarelo: Godín e Gerrard
URUGUAI: Muslera (7), Cáceres (6), Giménez (6), Godín (6) e Álvaro Pereira (6); Arévalo (7), González (6) (Fucile, 33 do 2º - 5,5), Rodríguez (5,5) e Lodeiro (6,5) (Stuani, 21 do 2º - 5,5); Cavani (6,5) e Suárez (8,5) (Coates, 42 do 2º - sem nota). Técnico: Oscar Tabárez
INGLATERRA: Hart (6), Johnson (6,5), Cahill (5), Jagielka (5,5) e Baines (6); Gerrard (6), Henderson (5,5) (Lambert, 41 do 2º - sem nota) e Rooney (7); Sterling (6) (Barkley, 18 do 2º - 6), Sturridge (6,5) e Welbeck (6) (Lallana, 25 do 2º - 6). Técnico: Roy Hodgson

Comentários

Chico disse…
Com um doblete inacreditável, luisito conduz a Celeste a uma vitória impossível.

Tabárez organizou melhor o meio campo, em forma de losango com Lodeiro, e o Uruguay conquistou uma grande vitória.

Não se pode duvidar da Celeste, já devia saber disso.

Uruguay: grande contra os grande e pequeno contra os pequenos.

Não gostei da escalação do English Team. Rooney ficou muito longe da área onde pode fazer a diferença.

Mais um fracasso inglês.
Franke disse…
Maior jogo da Copa até aqui.
Vicente Fonseca disse…
Também não gosto muito dessa escalação inglesa com o Rooney mais recuado, Chico, embora tenha sido o primeiro gol dele em Copas justamente jogando assim. Fato é que o Uruguai tem mais time, ou ao menos mais ataque. Por isso ganhou o jogo.