Duas injustiças

A Copa do Mundo está tão boa que, dos três jogos que acabaram em 0 a 0, dois deles foram bem movimentados. À exceção do horroroso Irã x Nigéria, os jogos entre Brasil x México e este de hoje, entre Japão x Grécia, foram bastante disputados, corridos e recheados de chances de gol. No caso do jogo de Natal, a injustiça foi dupla: o jogo merecia gols e o Japão merecia vencer, por ter sido o único time que procurou a vitória na Arena das Dunas.

O mérito da Grécia foi o mesmo de sempre: humildade para reconhecer suas limitações. A equipe grega, de fato, é tecnicamente pior do que o Japão. Entrou fechada, apostando na sua segurança defensiva e na possibilidade de matar o jogo em uma bola, algo que a tornou campeã europeia há dez anos. Não foi uma estratégia equivocada, afinal, falta aos japoneses alguém que marque gols. A equipe de Alberto Zaccheroni teve quase 70% da posse de bola, criou bastante, mas tinha incríveis dificuldades de conclusão.

A expulsão do experiente Katsouranis, aos 37, escancarou de vez as propostas de jogo. O Japão voltou do intervalo ainda mais ofensivo. Com Endo no lugar de Hasebe, perdeu um pouco marcação para ganhar em saída de bola, passe e conclusão. Demorou um pouco a se assentar: dos 10 aos 15 da etapa final, a Grécia esboçou uma pressão na base da bola alçada na área. Aproveitar a altura superior de seus jogadores era mesmo uma ordem. Mas a equipe perdeu gols, e ali perdeu a chance também de vencer a partida. Seria difícil encaixar uma sequência de ataques novamente.

Passado o susto, o Japão retomou o controle do jogo e imprimiu uma pressão incrível sobre os gregos. Era fácil envolver o meio grego e chegar à área. O difícil era botar a bola na rede. Chances a equipe nipônica teve, mas faltava o artilheiro. Honda, Kagawa e Endo eram jogadores de nível superior em termos técnicos, mas a presença de área necessária para furar o bloqueio grego.

No final, o 0 a 0 foi comemorado pelos torcedores da Grécia por dois motivos: o primeiro é o fato de a equipe ter segurado a pressão japonesa, e o segundo é o de ter entrado na última rodada com até mais chances do que o próprio Japão. Afinal, apesar de seu saldo inferior, os gregos enfrentarão a Costa do Marfim, em um confronto direto, enquanto os japoneses enfrentam a favorita Colômbia. A Grécia, por sinal, já cansou de se classificar em situações deste tipo. Assim, até um 0 a 0 segurado de forma tão humilde parece simpático.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo C - 2ª rodada
19/junho/2014
JAPÃO 0 x GRÉCIA 0
Local: Arena das Dunas, Natal (BRA)
Árbitro: Joel Aguilar (ELS)
Público: 39.485
Cartão amarelo: Hasebe, Torosidis e Samaras
Expulsão: Katsouranis 37 do 1º
JAPÃO: Kawashima (6,5), Uchida (6), Yoshida (5,5), Konno (5,5) e Nagatomo (5,5); Yamaguchi (5,5), Hasebe (5,5) (Endo, intervalo - 6), Okazaki (6) e Okubo (5,5); Honda (6) e Osako (5,5) (Kagawa, 11 do 2º - 6). Técnico: Alberto Zaccheroni
GRÉCIA: Karnezis (7), Torosidis (5,5), Manolas (6,5), Sokratis (6) e Holebas (6); Katsouranis (3), Maniatis (5,5) e Kone (5,5) (Salpingidis, 35 do 2º - sem nota); Fetfatzidis (5) (Karagounis, 40 do 1º - 5,5), Mitroglou (5) (Gekas, 34 do 1º - 6) e Samaras (6). Técnico: Fernando Santos

Comentários

Vine disse…
Não sei se sou meio racista com orientais, mas essa seleção japonesa me irrita, provavelmente por não haver relação entre a qualidade do grupo e a forma de jogar. Talvez isso, aliado à minha torcida pela Grécia (o Uruguai europeu em termos de raça e entrega), tenha me dado a impressão de que os gregos mereceram mais vencer, pois atuar com um a menos e manter uma pressão durante alguns minutos do segundo tempo foi honroso demais. Mas não vão conseguir tirar a Costa do Marfim.
Enfim, que copa, senhores!