A 100 por hora

O pênalti de João Pereira sobre Götze foi duvidoso (não evidentemente inexistente) e ajudou a mudar o rumo da partida. Trata-se de um ponto que não pode ser desconsiderado. Ainda assim, nada invalida a grande estreia da Alemanha na Copa do Mundo. Mesmo que tenha sido favorecida por uma decisão polêmica do sérvio Milorad Mazic e tenha atuado com um homem a mais por 50 dos 90 minutos, a seleção de Joachim Löw provou porque é, hoje, a melhor do planeta, não precisando forçar o ritmo para chegar a uma impensável goleada de 4 a 0 sobre Portugal em seu centésimo jogo na história das Copas - é a primeira equipe a atingir tal marca.

Fora a bobagem do goleiro Rui Patrício, que quase deu um gol a Khedira, o pênalti que resultou no primeiro gol da Alemanha surgia num momento em que Portugal dominava o jogo. Com uma postura destemida e um esquema tático idêntico ao alemão, o time de Paulo Bento atacou o de Löw nos minutos iniciais. Não era apenas uma estratégia de um time que sabe como ninguém contra-atacar, como esta Alemanha: era uma dominação de espaços no meio, vitórias pessoais e de rebotes. Portugal entrou aceso, a Alemanha entrou devagar.

O gol colocou a Alemanha em vantagem, mas não mudou a postura portuguesa. Ainda assim, o time lusitano jamais voltou a ter o domínio que teve antes de tomar o gol de pênalti. Agora, os germânicos controlavam as ações, os ataques lusitanos eram de risco calculado. E Portugal saiu para o ataque sem o mesmo cuidado defensivo que antes, já que estava em desvantagem. Vimos, então, um deja-vu da Copa de 2010: o time alemão fechado atrás, sempre pronto para dar o bote num contragolpe, seja por Özil na direita ou por Götze na esquerda. Porém, aos 28, a equipe de Paulo Bento sofreria outro duro golpe com a saída do lesionado centroavante Hugo Almeida. Três minutos mais tarde, Hummels já fazia o segundo gol alemão.

Ainda assim, Portugal seguiu tentando, quase chegou ao gol em duas oportunidades - uma com Cristiano Ronaldo, outra com Éder - mas a expulsão do destemperado Pepe, aos 38, acabou de vez com qualquer possibilidade de reação, e abria o caminho para a goleada. Müller ampliou aos 45, em ritmo de treino. A Alemanha não forçou o ritmo em momento algum da tarde, seja por conta de sua imensa qualidade, das bobagens portuguesas ou de fatores alheios, como lesões ou o erro da arbitragem no lance do gol de pênalti.

O segundo tempo não foi a chatice que se esperava (3 a 0 nos 45 iniciais geralmente significam jogo ruim nos 45 finais). A Alemanha nunca abdicou de tentar o ataque, embora pecasse pelo preciosismo em certas ocasiões. Portugal foi valente, mas as limitações pesaram. Não bastasse a impressionante marcação alemã sobre Cristiano Ronaldo (havia sempre 2 ou 3 germânicos o marcando sempre), Portugal teve Nani em tarde pífia e ainda perdeu Fábio Coentrão por lesão. O reserva André Almeida entrou muito mal. Não tem a força ofensiva do titular e furou duas vezes, uma delas ocasionando o quarto gol, novamente de Müller, artilheiro da Copa, 8 gols em 7 jogos e desde já candidato, no futuro, a quebrar o recorde de Ronaldo.

A Alemanha tem a melhor seleção da Copa em termos de time e elenco, mas talvez nem o mais otimista de seus torcedores esperava um placar tão dilatado. A seleção germânica mostrou muita segurança defensiva, uma marcação implacável sobre o melhor do mundo, volantes que se soltam com extrema qualidade e um ataque dinâmico e rápido. Como falávamos em 2010, quando a equipe já deu show em várias partidas, no Brasil esta seleção estaria mais pronta para ganhar a Copa. Parece não haver dúvidas de que isso é um fato. Isso que Schweinsteiger nem jogou hoje.

Em tempo:
- Portugal sai do jogo goleado, com saldo terrível, perde um centroavante e um lateral esquerdo por lesão e seu principal zagueiro por expulsão. Um estrago imenso.

- A última vez que a Alemanha estreou em uma Copa fazendo menos de quatro gols foi em 1998, 2 a 0 nos Estados Unidos. Em 2002, 8 a 0 na Arábia Saudita; em 2006, 4 a 2 na Costa Rica; em 2010, 4 a 0 na Austrália.

- Lesão de Hummels é a má notícia da tarde para os alemães. Zagueiraço, e peça fundamental para o esquema de Löw.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo G - 1ª rodada
16/junho/2014
ALEMANHA 4 x PORTUGAL 0
Local: Fonte Nova, Salvador (BRA)
Árbitro: Milorad Mazic (SER)
Público: 51.081
Gols: Müller (pênalti) 11, Hummels 31 e Müller 45 do 1º; Müller 32 do 2º
Cartão amarelo: João Pereira
Expulsão: Pepe 36 do 1º
ALEMANHA: Neuer (6), Boateng (6), Mertesacker (6), Hummels (7) (Mustafi, 27 do 2º - 5,5) e Höwedes (6); Lahm (6), Khedira (7) e Kroos (6,5); Özil (6,5) (Schürrle, 17 do 2º - 6,5), Müller (8) (Podolski, 36 do 2º - sem nota) e Götze (6,5). Técnico: Joachim Löw
PORTUGAL: Rui Patrício (4), João Pereira (4,5), Bruno Alves (4), Pepe (3) e Fábio Coentrão (6) (André Almeida, 19 do 2º - 4); Miguel Veloso (5) (Ricardo Costa, intervalo - 5), João Moutinho (6) e Raul Meireles (5,5); Nani (4), Hugo Almeida (5,5) (Éder, 27 do 1º - 5,5) e Cristiano Ronaldo (6). Técnico: Paulo Bento

Comentários

Franke disse…
O placar fez justiça à partida, mas não a Portugal - talvez a Alemanha nem consiga esse placar em outro jogo nessa fase ou mesmo na Copa.

A Alemanha parece estar no mesmo ritmo de 2010, e talvez mesmo mais experiente. Talvez seja a que mais gera expectativa, afinal amadureceu como equipe e também individualmente.

Mas acho que Portugal tem que levantar a cabeça. Mesmo com os desfalque, tem tudo pra ganhar de EUA e Gana.
Vicente Fonseca disse…
Acho que as perdas podem pesar. Hugo Almeida, Pepe e Coentrão são jogadores importantes. Mas sim, Portugal é melhor que Gana e EUA.

Quanto à Alemanha, é uma máquina. Goleou um time no mínimo razoável como Portugal em ritmo de treino, sem forçar e sem Schweinsteiger. Favoritaça.