Da convicção à teimosia



O Cruzeiro não conseguiu oficializar seu título hoje à tarde, mas não por causa do Grêmio. A atuação do Tricolor foi o grande motivo da festa que os quase 60 mil torcedores fizeram ao deixar o Mineirão, mesmo sem a taça garantida. Afinal, a Raposa venceu o único adversário que ainda não havia derrotado neste campeonato, e de forma categórica, sem deixar dúvidas, com a imensa superioridade que simboliza sua histórica campanha neste Brasileirão.

Por mais que o 3-5-2 com três volantes não dê mais resultados há algum tempo, Renato insistiu na formação para atuar em Belo Horizonte. A atuação gremista, é verdade, não foi um desastre como o resultado indica, mas o esquema ajudou a tirar do time as poucas chances de vitória de que ele dispunha antes de o jogo começar. Nada, nem mesmo uma suposta convicção, explica satisfatoriamente o Grêmio ter entrado em campo sem Elano, Zé Roberto ou Maxi Rodríguez, todos meias de qualidade, em prol de um zagueiro em má fase, como Werley - sem colocar a culpa pela derrota nele, mas essa era a dúvida de Renato antes do jogo.
1º TEMPO: Cruzeiro adianta marcação e não dá chances ao Grêmio
A formação fechada funciona contra times que têm problemas técnicos, e ajudou o Grêmio em muitos jogos fora de casa neste Brasileiro. Não era o caso de hoje. O Cruzeiro, em 20 minutos, já havia criado quatro chances de gol. Marcar o primeiro era questão de tempo. A equipe mineira adiantou sua marcação, pressionou a saída de bola do Grêmio e simplesmente impediu que alguém se desprendesse de trás para surpreender na frente. Enquanto jogou retrancado, o Tricolor teve menos de 30% de posse da bola, e simplesmente não criou perigo. Contra um time desse nível, segurar o 0 a 0 era missão quase impossível.

O Grêmio tomou o inevitável gol aos 34. Tinha três zagueiros e um lateral na área, mas ninguém foi capaz de impedir que Borges fizesse seu acrobático voleio de canela. A única chegada gremista de perigo veio aos 41, em duas grandes defesas de Fábio após um escanteio. Bola parada, portanto. Essa era a alternativa gremista na etapa inicial. Só que o melhor batedor de faltas e escanteios da equipe estava assistindo tudo do banco de reservas.
2º TEMPO: Renato mexe tarde demais, e seu time acaba levando mais dois gols no fim
Na etapa final, o Grêmio só cresceu e equilibrou o jogo porque o Cruzeiro optou por diminuir o ritmo. A equipe de Marcelo Oliveira não se constrange em contragolpear, mesmo dentro de casa. Porém, se preparou para isso. Vencendo por 1 a 0 e com o jogo sob controle, o treinador mineiro fez as alterações na metade da etapa final, renovando o fôlego do seu time. Renato, vendo seu time se debater para chegar à intermediária de ataque, só reclamava com os atletas, mas não usava seu banco de reservas, que é tecnicamente tão bom quanto o time titular. Barcos criou sozinho duas chances, dando a impressão de que talvez a reação poderia vir. Mas Willian, que recém entrara, fez o 2 a 0 que sepultou as chances gremistas.

Só aí Renato se mexeu. Colocou Maxi e Mamute em campo, deixando os dois grandes meias no banco de reservas. Em dois ou três toques na bola, o uruguaio já deu maior qualidade à criação, dando a clara impressão de que a equipe perdera 75 minutos sem ele em campo. E de fato havia perdido, mas não só esses 75 minutos, mas várias e várias rodadas deste Campeonato Brasileiro. A boa campanha do Grêmio se explica pela boa defesa da equipe, que já não é mais tão segura; pelo ataque eficiente, que aproveitava as poucas chances que tinha, e não esse de agora, que cria, cria, e perde.

O esquema? Renato encontrou nos três volantes uma segurança, tem dois esquemas diferentes, mas já está claro, há várias rodadas, que a equipe precisa de um meia criativo. É inadmissível entrar em campo com um time pior do que o banco de reservas, como na derrota para o Atlético-PR, em Curitiba. Ou prescindir de valores como Elano e Zé Roberto num time que visivelmente tem um futebol pobre, há bastante tempo. O Grêmio está há 21 rodadas no G-4, Renato sempre repete isso, mas poderia estar ainda melhor se ele não confundisse convicção com teimosia e fizesse esta equipe evoluir taticamente e tecnicamente com nomes de mais qualidade. Agora restam cinco jogos, e se 6 pontos não forem conquistados contra Vasco e Flamengo em casa, a Libertadores estará definitivamente comprometida.

Quanto ao Cruzeiro, é injustiça que o título não tenha sido comemorado hoje, com Mineirão lotado e atuação de gala da equipe. O time de Marcelo Oliveira ganhou ao natural de um dos melhores dos demais 19 concorrentes deste Brasileirão. Os 3 a 0 foram um símbolo da superioridade da Raposa no campeonato. Um time que no papel não tem tanta bola para fazer esta campanha tão superior, mas dentro de campo sobra. E o fez contra todos os outros times do campeonato. Que grande campeão tem o Brasil em 2013.

Campeonato Brasileiro 2013 - 33ª rodada
10/novembro/2013
CRUZEIRO 3 x GRÊMIO 0
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Wilson Luiz Seneme (SP)
Público: 58.113
Renda: R$ 5.231.711,00
Gols: Borges 34 do 1º; Willian 33 e Ricardo Goulart 40 do 2º
Cartão amarelo: Ceará, Léo, Éverton Ribeiro, Ramiro, Kleber e Alex Telles
CRUZEIRO: Fábio (7,5), Ceará (6), Dedé (7), Léo (6) e Egídio (5,5); Nílton (6), Lucas Silva (6) e Éverton Ribeiro (7) (Luan, 31 do 2º - 6); Ricardo Goulart (7), Borges (6,5) (Júlio Baptista, 15 do 2º - 5,5) e Dagoberto (6,5) (Willian, 30 do 2º - 6,5). Técnico: Marcelo Oliveira
GRÊMIO: Dida (5,5), Werley (5), Rhodolfo (5,5) e Bressan (6); Pará (4,5), Souza (5,5), Ramiro (5,5), Riveros (5) (Maxi Rodríguez, 34 do 2º - 5,5) e Alex Telles (5); Kleber (4,5) (Yuri Mamute, 34 do 2º - 5,5) e Barcos (5,5). Técnico: Renato Portaluppi

Comentários

Anônimo disse…
vicente, o que tu acha do Maxi rodrigues, achas que ele tem condições de comandar nosso meio campo?
Vicente Fonseca disse…
Acho bom jogador, e que o Grêmio deveria apostar nele como titular para o ano que vem. Claro que é um jovem, e por isso deve alternar bons e maus momentos numa temporada longa. Por isso talvez não dê para ele ser o único meia desse time. Mas acho melhor com ele do que sem nenhum articulador.
Beth Fonseca disse…
Tudo bem que o Cruzeiro é campeão, mas precisavam perder de 3x0?..kkkkk