Um Gre-Nal acidentado e de baixo nível

O primeiro Gre-Nal da Arena, de certa forma, se assemelhou ao último do Olímpico: um domingo lindo para um jogo truncado, de baixa qualidade técnica, com confusões, expulsões, e o Inter terminando com 9 homens contra 10 do Grêmio. E um empate, resultado que, como dissemos antes do jogo, tendia a cair melhor para o lado vermelho do que para o azul, como acabou ocorrendo.

Renato colocou em campo um time que mal treinou junto. Um esquema novo, 3-5-2, promovendo a estreia de Rhodolfo e isolando Elano na criação. Atitude temerária, arriscada, mas que acabou funcionando. O Grêmio controlou o Gre-Nal e esteve sempre mais perto de vencê-lo, embora não tenha tido uma grande atuação nem talvez precisasse de um esquema novo para se impor ao Inter. No entanto, antes de a bola rolar, a perspectiva não era boa. Com Jorge Henrique, jogador versátil e participativo, o Inter tendia a dominar o meio-campo e o jogo, diante de uma equipe que nunca havia jogado junta e com apenas três meio-campistas de ofício escalados.

Mas nada disso ocorreu. Curiosamente, e é algo raro para um 3-5-2, o Grêmio foi um time compacto, especialmente no primeiro tempo. Seu único meia era Elano, que vivia uma tarde nitidamente ruim, mas o time não sofreu para criar jogadas por conta disso. Tudo porque Pará e Alex Telles apoiaram bastante, como alas, Riveros se juntava ao ataque quando algum dos laterais ficava mais preso, Kleber voltava para buscar jogo e Barcos levava vantagem na maioria das divididas aéreas originadas de ligações diretas. Aliás, o Grêmio só não criou tanto porque abusou do chutão na hora de tentar o ataque. Isso se deveu tanto à má atuação de Elano quanto às boas participações dos atacantes nos duelos de corpo.

Ainda assim, a postura gremista era superior, e por isso o primeiro gol foi merecido. O Inter não encontrava alternativas. Ednei era constantemente envolvido pelo lado direito de defesa, Kleber não podia subir tanto pois tinha trabalho defensivo pelo outro lado. D'Alessandro voltava muito para buscar jogo, já que o Grêmio roubava a bola com marcação adiantada. Jorge Henrique, então, nunca encontrou seu lugar no campo da Arena. Inclusive comprometeu no segundo tempo, como lateral direito, uma invenção de Dunga para tirar Ednei do jogo, sendo expulso por chegar atrasado no desarme a Barcos.

Mas uma característica inegável deste Inter de Dunga é reagir, e normalmente rápido. Ontem, mais uma vez foi assim: o Colorado sofreu o gol de pênalti e empatou dois minutos depois, em uma jogada espetacular de Willians (ótima atuação), redimindo-se do pênalti cometido em Kleber para construir todo o empate, concluído por Leandro Damião. Um banho frio no Grêmio e na Arena.

O que faltou ao Inter foi ambição para ganhar o jogo, o que talvez seja até um mérito gremista, já que o Tricolor é que se impôs durante a partida. O melhor momento psicológico do Colorado, logo após o empate, não foi aproveitado. A rigor, o time de Dunga levou perigo apenas mais uma vez no jogo inteiro: um contragolpe no qual Scocco aproveitou falha da defesa por cima e chutou com perigo de fora da área. As duas jogadas perigosas do Inter no jogo todo foram o gol e esta. De resto, só o Grêmio atacou. Mas faltou qualidade de criação ao Tricolor, devido à má jornada de Elano, e isso ficou mais evidente no segundo tempo. Zé Roberto fez muita falta. Maxi Rodríguez entrou e trouxe movimentação nova, mas pecou no último passe. O Grêmio controlou o jogo, mas não deu pinta de que teria forças para vencê-lo. O empate acabou acontecendo ao natural.

O 3-5-2 de ontem foi isso mesmo: para ontem. Renato deve voltar naturalmente à formação com quatro defensores assim que Zé Roberto retornar. No entanto, foi uma alternativa tática que funcionou. A atuação, em geral, foi boa. O criticado Pará fez um bom primeiro tempo, Alex Telles seguiu bem como de costume pelo outro lado, Werley ia bem até fazer a bobagem que lhe rendeu expulsão, Rhodolfo teve atuação para se manter como titular (rápido e seguro por baixo, soberano por cima), Riveros fez nova boa partida e Kleber provou, de novo, que é titularíssimo do ataque. Seu companheiro, Vargas ou Barcos, é o que se pode discutir.

Quanto ao Inter, o empate fica de bom tamanho pelo pouco futebol apresentado pela equipe de Dunga, que passou muito tempo recuada e agrediu pouco o Grêmio. A equipe rubra melhorou com o crescimento de D'Alessandro no segundo tempo, mas Forlán foi discreto. Leandro Damião fez um ótimo Gre-Nal: mesmo pouco abastecido, deu grande trabalho à zaga azul e protagonizou o duelo do clássico com Rhodolfo. Briga de alto nível em um Gre-Nal de baixo nível técnico e muita briga dentro de campo - o que é ruim, mas ao menos é melhor do que fora dele.

Arbitragem
Quando o jogo descamba para as brigas, o árbitro normalmente tem culpa no cartório. Fabrício Corrêa pecou no aspecto disciplinar, deixou de expulsar Adriano no primeiro tempo e picotou o jogo na segunda etapa inteira, fingindo que impunha respeito por distribuir cartões vermelhos. A expulsão de Fabrício é discutível, embora seja o critério que a maioria dos árbitros têm adotado. E o rodízio de faltas sobre Kleber, no primeiro tempo, e D'Alessandro, no segundo, em momento algum foi coibido com cartão amarelo.

Botafogo e Flamengo, os vencedores do domingo
Botafogo e Flamengo foram os grandes vencedores do domingo. O Fogão manteve a liderança ao fazer 3 a 2 no Vasco. O aproveitamento é ótimo, quase 70%, e a vantagem já é de 4 pontos para o Inter, 6 para o Corinthians e 7 para o Grêmio - ou incríveis 10 para o atual campeão Fluminense. O Flamengo se distanciou da zona de rebaixamento e colocou o Atlético-MG nela. Goleou o Galo por 3 a 0, diante de 32 mil torcedores, no Mané Garrincha.

Público
A média deste final de semana foi de 21,7 mil torcedores por jogo. O maior público da rodada foi o do Gre-Nal, com 40 mil pessoas na Arena. No campeonato, a média já é de 15,2 mil. A tendência de crescimento existe, e é bem provável que tenhamos o primeiro campeonato com mais de 20 mil torcedores por jogo desde a Copa União de 1987, uma ótima notícia.

Comentários

juca disse…
Não se pode esquecer que o Willians poderia ter levado o segundo cartão amarelo quando fez o pênalti.
Vicente Fonseca disse…
É verdade, Juca, embora eu ache até mesmo o pênalti um lance bem discutível. Na verdade, houve vários momentos polêmicos. No segundo tempo, por exemplo, o Barcos partia livre para dentro da área, mas o Fabrício Corrêa apitou uma falta totalmente inexistente sobre o Ronaldo Alves, que na verdade escorregou no lance. Isso entre outros lances, claro.
Zezinho disse…
Professor, se não me engano, os campeonatos de 1998 e 1999 tiveram mais de 20 mil de média de público
Vicente Fonseca disse…
O de 1998 ficou em torno de 16 mil, e o de 1999 em 19 mil. Em 2009, tivemos uma média de 19 mil também, a melhor dos pontos corridos até agora.

Em tempo: eu curtia os play-offs. dshdshsdh
Diogo Terra disse…
Em tempo: eu curtia as fórmulas malucas...
Vine disse…
- Achei que o Bressan também deveria ter recebido o segundo amarelo, ainda no primeiro tempo;

- Elogiei o árbitro na hora do pênalti, justamente por não ter dado cartão numa simples falta dentro da área, coisa que muitos fazem. Creio que não era o caso;

- Quando o Ronaldo Alves se machucou, achei que o Dunga colocaria o Jorge Henrique no lugar dele (risos);

- Renato mostrou bem como se utiliza o esquema 3-5-2: marcação forte desde o início. Era pra ter ganho o jogo, pois, como tu disse, o Grêmio mal foi atacado. Não acho a ideia ruim, mas algum bom jogador ficaria no banco entre Elano e Riveros. Alex Telles jogando como ala é promessa de mais cruzamentos de qualidade. Poderia continuar assim.