Perdido e perdendo



Renato Portaluppi não é o culpado por tudo de ruim que aconteceu na noite desta quinta-feira. Não foi por causa dele que Elano errou tudo o que tentou, que Barcos teve mais uma noite apagada, que Kleber jogou mais deitado que de pé. Mas Renato é, sim, o principal responsável pela derrota. Uma derrota inaceitável pela situação da tabela, por todas as circunstâncias que rodeavam esta partida. São mais três pontos perdidos. E o pior: foi a derrota de um time perdido, comandado por um técnico perdido.

Se Renato sabia que o Coritiba vinha num 3-5-2, cheio de jogadores no meio, como ele próprio falou na coletiva após o jogo, por que então resolveu escalar seu time no 4-4-2, retirando alguém do meio? Aliás, como ele sabia que o Coxa viria com três zagueiros, se ele quase nunca atua assim? Marquinhos Santos veio no 3-5-2 claramente para espelhar o Grêmio, que, todos diziam, viria no mesmo 3-5-2. Assim Renato treinou durante a semana. Assim tinha ido bem no Gre-Nal. Era a hora de repetir o que havia dado razoavelmente certo.

Mas não: Renato regride para baixo da estaca zero, escalando uma equipe que sequer treinou, quanto mais jogou junta. No primeiro tempo, Souza esteve completamente perdido jogando no losango pela esquerda. Elano, a 1 minuto, cavou falta em grande arrancada. Uma falsa impressão de que iria bem: foi talvez a pior de todas as suas últimas apáticas atuações pelo Grêmio. O time não teve criação em momento algum da partida, nem com Maxi Rodríguez entrando no segundo tempo. Só conseguiu pressionar na base do abafa, com muita desorganização, e sempre correndo o risco de levar o segundo gol.

Ao contrário de vários dos seus últimos jogos, o Coritiba desta vez saiu ganhando cedo. O gol de Deivid, a 9 minutos, muito semelhante ao de Leandro Damião no clássico de domingo passado, caiu como uma luva para o time paranaense, que agora tinha toda a legitimidade do mundo para se fechar e explorar os contragolpes. Geraldo, pela direita, foi sempre uma arma. Em todos os 90 minutos da partida, o time visitante mostrou-se mais consciente do que queria em campo. No entanto, o Coxa teve poucas chances de ampliar. Não fez uma grande partida, mas foi organizado. Se tivesse Alex, teria provavelmente vencido com mais tranquilidade.

Renato fala da importância de ter esquemas diferentes à mão, de não ter apenas um "Plano A". Isso é verdade. O problema é que o Grêmio nem Plano A tem, quanto mais B ou C. O losango até agora não havia funcionado tão bem, mesmo que com ele a equipe tenha vencido Botafogo e Fluminense (atuações só médias). No Gre-Nal, sim, seu time teve mais volume de jogo no 3-5-2. Então, qual seria o problema de repetir aquela escalação? Só com repetição uma equipe ganha padrão de jogo, confiança, solidez. Mudando a formação e o sistema tático a cada rodada, não irá a lugar algum.

O Grêmio, que já não ganha fora, agora perde em casa. A primeira derrota na Arena em quase cinco meses. Por tudo isso, um resultado desanimador. Mas é bem pior do que as estatísticas sugerem: era a chance de enfrentar o Coritiba, um rival direto na tabela (que já nem é mais, tal a distância), em casa, sem Alex. Havia a necessidade de pontuar após a perda de cinco pontos para Corinthians e Internacional. Uma vitória deixaria o Grêmio com pontuação de G-4. A derrota lhe mantém no modesto 9º lugar, a 8 pontos dos líderes e 7 do Coxa.

Claro, a zona da Libertadores está só a 3 pontos, e faltam 26 rodadas. Há tempo de sobra e a proximidade com o G-4 existe. Mas isso só na tabela. Dentro de campo, que é onde as coisas se resolvem, o Grêmio mostrou que está perdido e, por isso, muito mais distante de qualquer objetivo grande que possa ter neste campeonato do que sua torcida deseja e espera.

Comentários

Igor Natusch disse…
Soube que a partida seria difícil no instante em que ficou clara a mudança do 3-5-2 para o 4-4-2 com três volantes de origem. Uma decisão desastrada e injustificada sob todos os aspectos. Mudar o time quando teve retorno razoavelmente positivo (ainda mais Renato, que gosta de dizer que valoriza o que dá certo) não faz qualquer sentido. Coisa de treinador de videogame, sinceramente.

Foi uma partida horrorosa e um banho de água gelada nas paletas do torcedor gremista. Um time desses não sai de onde já está: a zona morta da tabela. O Brasileirão ainda não acabou para o Grêmio, claro, mas a briga do time agora não está nem perto das cabeças do campeonato: é simplesmente voltar a vencer. E depois tentar uma sequência. Consolidar um time e uma ideia de esquema. E aí, quem sabe, se não houver muita distância e houver tempo, tentar algo na ponta de cima da tabela.

Complicado.
Lourenço disse…
Não quero endeusar o Ramiro, mas não tem como o Grêmio jogar com três volantes e nenhum deles ser o Ramiro. Souza é um bom volante, mas não tem característica para render nessa posição. Pode até ser segundo volante em um meio com duas linhas mas, em um losango, tem que ser o primeiro volante. Adriano não foi culpado ontem, mas também não pode ser titular e deixar Ramiro no banco. E também não foi pelo jogo de ontem, mas Pará não vai muito além disso, é um jogador de grupo no máximo.
Vicente Fonseca disse…
O Pará, ontem, foi um dos melhores do Grêmio. Eis o problema: quando o Pará é um dos melhores, é porque o time não teve mais do que esforço - afinal, isso ele tem de sobra, é inegável.

É difícil pensar de onde partir. O 3-5-2 funcionou no Gre-Nal, mas acho que com a volta do Zé Roberto fica difícil mantê-lo. Talvez a saída seja voltar à formação do ano passado, o 4-2-2-2 clássico. Acho que ainda é a que melhor se encaixa pra esse grupo.
Lourenço disse…
Discordo, fiz a ressalva de que não era por ontem (porque não foi o culpado, e minha opinião é da amostragem nos últimos três anos de carreira), mas o Pará foi um desastre. Ele aparece em todos os lugares do campo, é indignado, mas errou todas as jogadas que tentou, errou diversos passes de 10 metros e não foi à linha de fundo.
Vicente Fonseca disse…
Pode ser. Mas é que alguns não tiveram nem isso...
Vicente Fonseca disse…
O Grêmio em si foi um desastre, mas ainda assim é preciso reconhecer foi uma atuação abaixo do nível normal, mesmo ele não sendo muito alto. O que desanima é a falta de perspectivas, já que todos parecem perdidos.
Ontem foi uma daquelas partidas que me senti, ao fim dela, como no fim de Gremio 1x1 Figueirense em 2008; ou de Gremio 3x3 Sport em 2009; ou de Gremio 1x2 Fluminense em 2010; ou, ainda, de Gremio 2x2 Atlético-MG. Aquela sensação de letargia, de que nada vai sair disso, de que um time de ponta como esse não tem capacidade de encarar uma equipe organizada, fechadinha e rápida nos ataques.

Chegou agosto e ninguém sabe dizer qual a forma de jogar do Gremio. Ninguém sabe definir o padrão tático da equipe, a escalação, as principais jogadas. Nada. Ok, Renato está apenas há um mes e meio na Arena. Mas já era pro time demonstrar alguma cara diferente, algo mais interessante, e etc. Demonstrou no Grenal, é verdade. Mas aquilo foi exceção ou uma alternativa do que pode dar certo?

Outra coisa: não dá raiva perceber que Fábio Koff está repetindo tudo o que Odone fez de errado em 2011? E até vou ser bem direto: não se surpreendam se Renato cair antes das eleições pro Conselho Deliberativo, por motivos óbvios. Será o auge da galhofa: o maior presidente que o clube teve mandando embora o maior ídolo, depois de toda aquela papagaiada de *papai e filhinho* que rolou quando de sua contratação, por falta de rendimento no futebol.

Odone deve estar se divertindo e muito com esse ano. E vai se divertir ainda mais se essa história se concretizar.
Faltou ali em cima especificar: Gremio 2x2 Atlético MG de 2011. Pré chegada de Roth ao Olímpico.
Vicente Fonseca disse…
A sensação é mais ou menos essa mesmo. Mas acho que o Renato só sai se quiser. Koff não é de desistir fácil de um técnico, se é o de sua convicção.