Melancolia uruguaia



O choro de Arismendi ao errar o terceiro pênalti da série decisiva diante do Real Garcilaso (aos 4'30" do vídeo acima), ontem à noite, em Montevidéu, é a cara do momento do Nacional, e a imagem do ano até agora no futebol sul-americano. Um time que começou o ano prometendo bastante e acaba o primeiro semestre entregando pouco. Que tem poucas chances de ir para a final do Campeonato Uruguaio, foi goleado de forma inapelável para o rival Peñarol no domingo passado e, na partida onde poderia se reabilitar de tudo isso, acaba desclassificado de uma Libertadores na qual chegou a bater o Boca em plena Bombonera de uma forma melancólica, sem passar por um dos grandes azarões da fase decisiva, e com dois de seus mais experientes jogadores errando cobranças de pênalti por muito. Arismendi e Recoba mandaram a bola da marca da cal do Centenário para cima, muito alto, como se parassem no Mercado del Puerto.

O mais triste de tudo é que a desclassificação do Nacional para o Real Garcilaso não foi injusta. O time uruguaio foi para os 3,4 mil metros de altitude de Cuzco disposto a não perder, ou perder de pouco. De certa forma, conseguiu: levou só 1 a 0, mas jogou muito pouco. Foi envolvido no primeiro tempo e, embora tenha melhorado no segundo, criou pouquíssimo. O problema é que no Centenário a atuação não foi das melhores. O Garcilaso conseguiu manter o Bolso longe de sua área no primeiro tempo. O Nacional tinha a iniciativa, mas os arremates a gol não eram tão frequentes como deveriam. A pressão que se prometia não ocorria. Talvez pelo fato de os próprios jogadores uruguaios estarem pressionados após levarem 3 a 0 do Peñarol quatro dias atrás.

A entrada de Recoba melhorou consideravelmente o time no segundo tempo. Antes, o Bolso tinha apenas a movimentação de Damonte, muitos erros de passe de Sánchez e um Gonzalo Bueno que simplesmente não concluía a gol. Em seu único arremate, o jovem camisa 14 fez 1 a 0 de cabeça e trouxe o Nacional para a pressão. Foram os melhores 35 minutos do time uruguaio em todo o confronto, ainda assim insuficientes para furar o bom bloqueio do time peruano. O gol, claro, surgiu na bola parada, a única arma que a equipe de Arruabarrena dispunha até aquele momento. E quem joga com bola parada não pode prescindir de Recoba - justiça seja feita: ele não começou o jogo por estar se recuperando de lesão.

O Real Garcilaso é tecnicamente inferior ao Nacional, mas ainda assim mereceu passar de fase. Apesar de ser um clube jovem (tem quatro anos de fundação), tem jogadores experientes, que demonstraram frieza nas cobranças de pênalti. Ao contrário do que se pensa, a altitude não é sua maior virtude: é o conhecimento de suas limitações que faz o time estar entre os oito finalistas da Libertadores. O Garcilaso não se atira para cima, sabe se fechar bem para contragolpear. Quando tentou atacar, foi goleado em casa pelo Tolima. Não deve resistir a um Grêmio tecnicamente muito superior ou a um Santa Fé que já o conhece desde a fase de grupos. Mas já conseguiu fazer um estrago bem maior que todos esperávamos nesta Libertadores.

Ao futebol uruguaio, cabe um momento de reflexão. Depois de dois anos gloriosos em 2010 e 2011, tanto nos clubes como na seleção, 2012 e 2013 têm sido péssimos. A Celeste vai mal nas Eliminatórias e o Nacional, único representante do país nas oitavas, caiu de forma melancólica na Libertadores. Desde o vice-campeonato do Peñarol há dois anos, nenhum clube uruguaio belisca nada em competições sul-americanas.

Comentários

Heber disse…
Muy acertado tu comentario Vicente y sí es así como lo viste. Lo triste es que plantel tiene Nacional, pero parece que no les transpira la camiseta cargada de gloria. En una semana dos traspiés fundamentales. Estamos muy cerca de no clasificar para la Libertadores del año próximo. El comentario de nuestro técnico anoche "jugamos bien y ganamos".... paraaaa!!! así no podemos hacernos trampas al solitario.
Vicente Fonseca disse…
Obrigado, meu caro Heber. Bom saber que vi o mesmo jogo de alguém que esteve no Centenário.

Também acho que o plantel do Nacional é bom, experiente, mais encorpado que em anos recentes, mas o time simplesmente não consegue render. Não se classificar para a Libertadores de 2014 seria trágico. Dois fracassos assim em uma mesma semana é realmente desanimador.
Lourenço disse…
O juiz errou ao validar o segundo gol de pênalti do Garcilaso?
Vicente Fonseca disse…
Pois é, Lourenço. Eu imediatamente lembrei daquele lance da decisão entre Brasil x França, pela Copa de 1986. Muita coincidência termos comentado justamente sobre este lance, tão raro de acontecer, na semana em que ele se repete num jogo de Libertadores.

Eu sempre tive para mim que aquele gol da França (e este do Garcilaso, que foi igual) era irregular. No entanto, parece que em 1984 a FIFA recomendou que neste tipo de jogada fosse validado o gol (entra neste link, uma Placar de 1986, página 19): http://books.google.com.br/books?id=112ot9Y3v2oC&pg=PA19&lpg=PA19&dq=juiz+erro+carlos+1986+penalti+fran%C3%A7a&source=bl&ots=RKB-dOwWf_&sig=Y4jR9LpiwEVkioXsgP9wPu8Pew0&hl=pt-BR&sa=X&ei=5f-MUcmHIYS89QTgooG4Dg&ved=0CFAQ6AEwBA#v=onepage&q&f=false

Se houve alguma orientação em contrário de 1986 para cá eu não sei. Mas, se valer a regra daquela Copa do Mundo, o gol foi mesmo legal.
Vicente Fonseca disse…
Aliás, perdão: a página correta que explica o lance é a 26, não a 19.
Lourenço disse…
Pois é, eu na discussão achava que o gol era regular. Ao conversar contigo, aceitei que talvez eu estivesse errado. Mas tal qual Girafales, só me enganei quando pensei estar enganado.
Vicente Fonseca disse…
HAHAHAHAHAH

No fim, foi bom, pois eu tirei de vez essa dúvida. O ruim é que os dois times pelos quais eu torcia se deram mal no mesmo lance. :P
André Kruse disse…
Fiquei com a mesma dúvida ontem. Segundo o Gaciba o gol é legal. So não vale pegar rebote http://sportv.globo.com/platb/blog-do-gaciba/2013/05/09/tiros-desde-a-marca-do-penalti/