Barbada cabeluda

Jogos tidos como muito fáceis são traiçoeiros, e o Grêmio teve uma prova disso hoje à tarde. Assim como o Sport, há algumas semanas, o Bahia só foi batido nos minutos finais, depois de muita insistência, e em lances para lá de polêmicos.

A característica mais peculiar do Grêmio de Vanderlei Luxemburgo é não jogar fechado nunca. É um time que sempre tenta a vitória, em casa ou fora. Por isso, talvez, ainda não empatou neste Brasileiro. E por isso, certamente, tem dificuldades em enfrentar equipes muito fechadas. Caio Júnior veio a Porto Alegre pensando em anular as alternativas ofensivas gremistas. Seu time não jogou no primeiro tempo, mas marcou bastante e dificultou a vida gremista.

Na etapa inicial, talvez para anular a forte jogada baiana com Ávine, Elano atuou bem aberto pela direita. Esse posicionamento lhe tirou do jogo em boa parte do primeiro tempo. Na primeira meia hora, Zé Roberto deu show, articulando quase tudo sozinho, com qualidade e uma vitalidade impressionante. Mesmo sem criar muitas oportunidades, o Grêmio marcaria mais cedo ou mais tarde, e conseguiu, em pênalti batido por Elano, superando seus traumas de 2011 e as provocações dos jogadores baianos.

Caio Júnior mexeu bem no intervalo. Ávine é bom no apoio, mas o time precisava de uma chegada forte pela esquerda, e a dupla marcação de Edílson e Elano impedia o ala de chegar. Entrou Lulinha, rápido, habilidoso, que ganhou simplesmente todas de Edílson e o tirou do jogo. O Bahia cresceu, emparelhou a partida (nunca chegou a dominá-la por completo), e fez por merecer o empate, em um gol de Fahel onde Marcelo Grohe mostrou a velha deficiência na saída de gol.

De imediato, Luxemburgo colocou Marquinhos e Léo Gago nos lugares de Fernando e Edílson. As mudanças tinham o propósito de tornar o time mais ofensivo, mas não houve uma melhora substancial de volume na frente. No entanto, a troca matou Lulinha, já que agora Pará, mais seguro na marcação, é quem caiu por aquele lado. Assim, o Bahia ficou com poucas saídas - teve um contra-ataque perigoso e nada mais. A dupla mexida, portanto, não melhorou o desempenho do Grêmio, mas trouxe o Bahia para trás. Um passo de cada vez. Luxemburgo não teve pressa de ganhar o jogo.

Com o Bahia fechado como no primeiro tempo, a saída foi pressionar na base do abafa. Tony entrou no lugar de Pará, já que Lulinha estava controlado. Havia, agora, ataques pelos dois lados. Mas o gol só veio na bola parada, aos 42 do segundo tempo, com Souza, o que destruiu o ânimo do Bahia, indignado com a arbitragem. O terceiro, de Marcelo Moreno, foi consequência. Uma lindíssima consequência, diga-se.

O resultado é importantíssimo. Time que disputa o título não pode perder pontos para equipes da zona de rebaixamento, quanto mais em casa. Mas o Grêmio poderia ter tido sorte pior. Mais uma vez, diante de um adversário inferior tecnicamente, a equipe exibe dificuldades em se impor e vencer o jogo. O Grêmio rende mais contra os times de cima: Cruzeiro, Botafogo, Fluminense. Mas, é fato, tem cumprido bem seu papel contra os de baixo. O Bahia teve uma boa atuação, de acordo com o que pode render. Tem um time experiente e pode sair da zona de rebaixamento. Há times piores neste campeonato, tecnicamente inclusive.

Em tempo:
- A arbitragem é um capítulo à parte. O Bahia foi prejudicado no gol mal anulado de Fahel, embora o lance seja extremamente difícil. Na hora do chute de Lulinha, o volante baiano está na mesma linha de Pará, embora estivesse em impedimento centésimos antes do chute. No segundo gol do Grêmio, a reclamação não procede. A bola bate nas costas de Kleber, mas ele não parece impedido: havia dois jogadores do Bahia quase junto à linha de fundo na hora do cabeceio de Souza. Exageros do Bahia ou não, o erro é a CBF colocar um ilustre desconhecido para apitar um jogo de Série A. O Campeonato Brasileiro é equilibrado demais para experiências. Foram vários erros em lances pequenos, além dos muito discutíveis lances capitais. E, embora parte da argumentação tenha mesmo fundamento, lamentáveis as declarações preconceituosas de alguns dirigentes do clube baiano na hora de reclamar.

- Caio Júnior tem o Grêmio muito engasgado. A comemoração no gol de Fahel deixa isso muito claro.

- Grêmio sobrou nos minutos finais fisicamente.

ATUALIZAÇÕES
Agora sim, vi por um ângulo mais favorável que mostra o impedimento. Pelo teipe normal, dois jogadores do Bahia parecem dar condição, mas na câmara invertida fica claro o impedimento. A dúvida, agora, é quanto ao gol anulado do Bahia. Fahel parece estar na mesma linha, mas é questão milimétrica.

Campeonato Brasileiro 2012 - 14ª rodada
5/agosto/2012
GRÊMIO 3 x BAHIA 1
Local: Olímpico Monumental, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Cláudio Francisco Lima e Silva (SE)
Público: 23.268
Renda: R$ 429.514,00
Gols: Elano (pênalti) 32 do 1º; Fahel 18, Souza 42 e Marcelo Moreno 47 do 2º
Cartão amarelo: Fernando, Kleber, Danny Morais, Fahel e Zé Roberto
Expulsão: Mancini 43 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5), Edílson (4) (Léo Gago, 22 do 2º - 5), Werley (5), Gilberto Silva (7) e Pará (5,5) (Tony, 32 do 2º - sem nota); Fernando (6) (Marquinhos, 22 do 2º - 4,5), Souza (7), Elano (6,5) e Zé Roberto (6); Kleber (5,5) e Marcelo Moreno (6,5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo
BAHIA: Marcelo Lomba (6,5), Diones (5,5), Danny Morais (6), Titi (5,5) e Ávine (4,5) (Lulinha, intervalo - 6,5); Fabinho (5), Fahel (6,5), Hélder (5,5) e Mancini (5,5); Zé Roberto (5,5) (Ciro, 26 do 2º - 4,5) e Júnior (5,5) (Magno, 19 do 2º - 4,5). Técnico: Caio Júnior


Comentários

Milton Ribeiro disse…
Desculpe, mas a tua avaliação do árbitro foi muito gremista. O gol do Souza-Kléber foi de clareza absoluta.
Vicente Fonseca disse…
Tu tem algum link que mostre? Eu só vi nos melhores momentos e parei o vídeo na hora da cabeçada. Me pareceu mesma linha, ou muito próximo, muito discutível. Mas claro que o ângulo não é o melhor.
Vicente Fonseca disse…
Tá, e agora talvez eu tenha que reescrever todo o comentário da arbitragem:

https://fbcdn-sphotos-c-a.akamaihd.net/hphotos-ak-prn1/549092_339585306124854_86396133_n.jpg

Complicados os lances.
Igor Natusch disse…
Fahel está obviamente não impedido no lance do gol. Essa montagem aí em cima é bem sem-vergonha - mesmo nela o Fahel não está impedido coisíssima nenhuma.

O segundo gol eu acho um lance bem complicado. Revendo o lance (tem os videos no Globoesporte, né) fica claro que Kleber está bem impedido - está quase colado no goleiro e não há ninguém debaixo das traves. O Souza está totalmente não impedido, mas o último toque não é dele, é do Kleber. Imagino que o juiz e o bandeirinha simplesmente não viram que a bola bateu nas costas do Kleber, que de fato atua de forma não-intencional no lance - eu mesmo não vi, assistindo pela TV. Mas eu daria impedimento e pararia o lance.

De qualquer modo, mais um péssimo juiz nesse péssimo quadro de arbitros do Brasileirão. Dizer que roubou para o Grêmio fica bonito no folclore, mas não corresponde à realidade - basta lembrar que o próprio escanteio do segundo gol foi cobrado com um jogador do Bahia com dois cartões amarelos e ainda dentro de campo. Só foi expulso porque o bandeirinha avisou da cagada em curso. Ou seja, juiz ruim e inexperiente. Mas que prejudicou bem mais o Bahia, disso não há dúvida.
Vicente Fonseca disse…
Acho todos os lances muito discutíveis, mas nada óbvios. O Fahel, neste frame, aparece um pé na frente, mas é impossível saber se o foi o momento do toque exato.

No gol do Souza, na hora que ele cabeceia a bola, há dois jogadores do Bahia disputando a bola com ele - e tirariam o Kleber do impedimento. Pelo vídeo do Globoesporte, parando o tape, não me parece impedido. Mas não vi por tira-teimas ou coisas assim.
Vicente Fonseca disse…
Agora sim, vi por outro ângulo: Kleber está mesmo impedido.
Sancho disse…
No gol, o Kléber está impedido. Mas é um lance bem difícil, porque ele só o fica quando o jogador do Bahia colado à trave sai para tentar cabecear a bola do Souza. Ademais, há uma confusão entre ele e o goleiro que distrai. Em vez de pensar se há impedimento, se termina por focar se há falta ou não (a reclamação dos jogadores do Bahia me parece ser essa, aliás). Não há falta porque o goleiro está mais preocupado com o Kléber do que com a bola. Estivesse concentrado na bola, teria chance de pegar.
Lique disse…
o gol do souza foi um dos gols mais ilegais que eu vi nos ultimos tempos. mesmo que a bola nao tivesse batido no kleber, o impedimento deveria ter sido marcado, por que ele atrapalha (e muito) o lomba. mas enfim, mais tres pontos e segue a busca.
Lique disse…
e me chamou muita atencao os comentaristas do sportv nao terem nem cogitado o impedimento no lance.
Diogo Terra disse…
Os árbitros do Brasileirão só não são mais risíveis do que as teorias da conspiração elaboradas por certos gaiatos...
Igor Natusch disse…
Se olharem o frame a partir do pé esquerdo de cada jogador, o Fahel está um pé ATRÁS. A única diferença é a POSTURA dele, que não está curvado, ao contrário do gremista. Sou contra essa história de achar que um FIO DE BARBA é suficiente para o impedimento: ou impedimento é mais ou menos claro ou não é impedimento. Isso aí não é impedimento - é mesma linha. E olhe lá.
Samir disse…
O Bahia já havia sido roubado contra o Flamengo, num penalti inexistente em cima do Ibson.

É aquela velha máxima: um dia a banca paga, no outro ela recebe, o problema é que em TODAS rodadas há erros escandalosos da arbitragem. Não lembro de um ano em que tínhamos tantos erros absurdos em tantos jogos...

Sobre o jogo: G. Silva está jogando demais na zaga! E Marcelo é mto bom goleiro embaixo das traves, mas qdo tem q sair, pelo amor de Deus, é um desespero, ele n tem a mínima ideia do que deve fazer!
Lourenço disse…
Só não entendi por que focaram tanto no árbitro (que foi mal, sobretudo na questão de ter dado dois cartões e não expulsado o Mancini), se os dois lances dos gols (Fahel mal anulado, e Kléber mal validado) são culpa dos bandeiras. E não me venham com esse papo de que "o juiz homologa, o juiz chama para si", que impedimento é assunto de bandeirinha e deu.

O Grêmio foi MUITO beneficiado, mas pela arbitragem, não pelo árbitro.
Vicente Fonseca disse…
Vendo os lances, fica claro que o Grêmio foi beneficiado em quase todos. Na dúvida, sempre se deu pró-Grêmio. Só o que eu acho é que não foram lances tão escandalosos assim. Todos suscitam dúvidas em uma primeira olhada. O impedimento do Kleber fica claro pelo replay, mas o gol anulado do Bahia é um lance muito difícil, longe de ser escandaloso.

O texto foi escrito com as informações que eu dispunha na hora. Não tive acesso a alguma câmera que mostrasse o Kleber impedido, por isso escrevi que ele parecia em posição legal - porque pela câmera normal, parecia mesmo. Depois, por outro ângulo, deu pra ver que o impedimento era claro.

Não tenho necessidade de ficar escondendo quando o Grêmio é beneficiado, como foi ontem. Só procuro ser honesto com aquilo que vi. Se deu pra ver que na verdade a posição era ilegal, pronto, coloco o adendo no texto sem problema algum. Já fiz outras vezes, pró-Grêmio, pró-Inter, pró-Corinthians, pró-Barcelona ou pró-Moto Clube.

Quem me conhece, aliás, sabe que detesto discutir arbitragem e só o faço aqui quando é muito necessário ou polêmico.
André Kruse disse…
Lances de impedimento efetivamente são de responsabilidade do bandeirinha, mas o juiz foi devidamente criticado porque eram muito ruim.

Não fazia nada certo. É um absurdo ele não ter mandado essa falta voltar: http://www.youtube.com/watch?v=eJ1ISO7zhoc na sequencia ele marcou um escanteio que não existiu e validou o gol do Kléber.
Anônimo disse…
Isso aqui não é Impedimento - é Carta na Manga :D

Observação inútil de um fã dos dois sites!
Vicente Fonseca disse…
Tá certo, tá certo, desculpem os excessos.