A prata revoga tudo?

Não consegui assistir à decisão do futebol masculino nos Jogos Olímpicos, até por não ser exatamente um fã do futebol olímpico. Da campanha brasileira vi pouca coisa com a devida atenção. Mas não chega a surpreender tanto a derrota para o México na decisão - embora eu tenha sustentado, durante vários dias, que tínhamos nossa melhor chance de ouro na história.

O trabalho de Mano Menezes, de fato, é péssimo. Em dois anos, a seleção só involuiu - e não adianta tapar o sol com a peneira falando que esta é a seleção olímpica, afinal, a maioria destes jogadores é titular na principal também. Na campanha até a decisão da medalha de ouro, o Brasil ganhou todos os jogos, mas não atuou bem em nenhum deles. Só cumpriu sua obrigação contra times bem mais fracos. Na primeira pedreira, caiu.

Não apostaria cegamente na continuidade de Mano no comando da seleção, mas embora tenhamos já dois anos jogados no lixo, há muito tempo ainda até 2014. Parreira montou o time tetracampeão só em setembro de 1993, dez meses antes da Copa, quando Romário acabou com o Uruguai. Antes, a seleção sofria diante de Equador e Bolívia. Já Felipão, menos de um ano antes do penta, deu fiasco muito maior que o de Mano agora, perdendo na Copa América para Honduras. O prazo era bem mais curto, e no fim deu tudo certo. Por mais que o Brasil não esteja no caminho certo até 2014, não significa que não tenha tempo para recuperar o terreno perdido.

É exatamente por isso que costumo citar o trabalho de Dunga como um dos melhores já feitos por um técnico na seleção brasileira. Claro, ele teve seus pecados: insistiu em Felipe Melo e Michel Bastos (entre outros jogadores em nível para a canarinho), foi teimoso em muitos momentos, mas foi criterioso e organizado. Montou um time consistente, que foi crescendo aos poucos, encorpando. Ah, mas perdeu a Copa, alguém vai lembrar. E isso é motivo para jogar tudo no lixo? Se é, o que Mano está fazendo também merece demissão.


Comentários

Diogo Terra disse…
Em 1993, o time era sólido em todas as linhas. Mas carregava a pressão de não ganhar desde 1970. E se o Maradona não fosse assessorado por charlatães, teria sido um obstáculo duríssimo ao tetra.



Em 2002, França e Argentina - os melhores elencos - chegaram destroçados fisicamente. De quebra, caíram em grupos complicados (sobretudo a Argentina). E o Brasil, além de cair no "grupo da vida", teve a cumplicidade da arbitragem naquele jogo com a Bélgica. Até acho que poderia ter ganho de qualquer jeito, mas o Wilmots deve estar reclamando até hoje daquele gol mal anulado.

Contextos bem diferentes de agora. A não ser que a ratatulha da CBF se dê conta, o time em 2014 não deve ser muito diferente desse de Londres.

Amistosos contra times fracos - ou a Suécia é uma potência? - vão novamente passar uma impressão de força, já que a emissora monopolizadora das transmissões seguirá com seu estelionato jornalístico disfarçado de patriotismo.
Zezinho disse…
Vi a decisão e praticamente todos os jogos. Das seis seleções que o Brasil enfrentou, quatro foram melhor organizadas taticamente que a Seleção: Bielorrússia, Honduras, Coreia do Sul e México.

O futebol brasileiro, assim como no basquete e no handebol, está muito atrasado taticamente, lotado de técnicos ultrapassados. E quem o analisa está tão antiquado quanto. Enquanto continuarmos com formadores da opinião desdenhando da metodologia de treinamentos, cada vez mais pastaremos.

A Seleção perdeu a Copa de 2010 e criou-se a ideia de que tínhamos que voltar pro futebol 'ousado e alegre' e 4-3-3. O Santos levou uma saranda do Barça e veio a ideia de que tínhamos que imitar os catalães e basear o jogo no tiki-taka. Como se só isso bastasse.

O futebol brasileiro se mantem competitivo em nível internacional devido ao seu histórico e à técnica dos jogadores. Mas em organização foi ultrapassado há tempos. O trabalho de Mano é péssimo. Não lembra em nada seu trabalho no Grêmio.

Não há triangulações, marcação sob pressão, jogadas de bola aérea, saída de jogo, contra-ataque. A Seleção involuiu absurdamente desde Dunga. Voltou a ser balcão de negócios e recheada de jogadores come-e-dorme.

Esse Rafael nunca mais pode vestir a camisa da Seleção. Não dá pra queimar um acima de 23 e ele ser reserva - ainda mais do Alex Sandro! Não há um goleiro jovem confiável - saída de gol pra quê? -, dois zagueiros terríveis - Juan e Uvini - e um meio-campo sobrecarregado. Era só marcar o Oscar que acabava a Seleção.

Fora as mexidas terríveis do Mano ontem. Foi colocar Lucas só aos 40' do 2º tempo. E não me venham com Muricy que a coisa não melhorará.

Infelizmente, quem eu vejo mais preparado pra Seleção, hoje, é o Felipão. Digo isso porque ele está em vias de se aposentar. Tite cresceu muito, mas não sei se teria tempo pra treinar a Seleção como um time.

E mandar a cambada toda que acompanha futebol no Brasil pra um curso de reciclagem.
Lique disse…
1.gremio deve contratar FIGUEROA, de honduras, para resolver o problema da lateral esquerda.
2.dunga>>>mano. ganhou tudo, menos aquele jogo contra a holanda, por acidente. o felipe melo jogou bem com a canarinho, pelo que eu lembre. michela bastos nem tanto.
3.eu ja' tava com a manchete escrita para a vitoria brasileira: UM OURO PARA TIRAR O SOMBRERO
4.nao deu pra entender nao colocar o lucas mais cedo.

5.o hulk ate' pouco tempo nao era nem convocado, de repente e' um dos 3 veteranos com a incumbencia de comandar esse selecao nas olimpiadas. nao entendi essa. e por isso ganhou a vaga de titular default, quando, pra mim, deveria ser do pato (mesmo na selecao principal).

6.ja' o rafael nunca jogou nada, na boa. so' o irmao dele e' pior.
Vicente Fonseca disse…
Felipe Melo realmente não jogou mal com a amarelinha, e isso é mais um mérito do Dunga. O erro é que todos sabíamos que ele era explosivo e poderia colocar tudo a perder num momento difícil. Foi o que ocorreu.
Lourenço disse…
Dunga fez um excelente trabalho. Aquele jogo da Holanda foi uma lástima porque se sabia que, mais do que a eliminação em uma Copa, iria se destruir toda a forma de conceber a Seleção. Ainda que a culpa da destruição seja, também, do próprio Dunga, que montou um clima insuportável que só seria relevado com o título.
Até tive esperança que a escolha pelo Mano era um sinal de que algumas coisas poderiam ser aproveitadas do trabalho anterior, mas não. Não temos idéia de time, não temos afirmações, não temos postura e atitude, não temos resultados. Se ainda aposto no Mano, é porque nós daqui sabemos da grande qualidade do trabalho dele, mas o seu currículo inexpressivo para comandar uma seleção e, mais, o próprio trabalho na seleção, não recomendam.