Volta por cima, de tudo e de todos

A vitória do Corinthians é a vitória do trabalho, da seriedade e do planejamento. Os 2 a 0 sobre o Boca Juniors, com uma atuação soberba do coletivo corintiano no segundo tempo, representam bem a solidez da campanha. Trata-se do primeiro campeão invicto da Libertadores desde 1978, quando o Boca foi bi, mas entrou direto na semifinal. São 34 anos sem que um time tenha terminado a competição sem derrotas. Já eram 14 sem que o campeão brasileiro levantasse a América na temporada seguinte.

A final teve todos os ingredientes de uma grande decisão. O primeiro tempo teve pouco futebol e muita tensão. Normal. Ou alguém esperava uma final de Libertadores aberta, alegre, festiva? Os meias pouco tocavam na bola. O Boca começou melhor. Riquelme era muito bem cuidado por Ralf e Paulinho, mas Ledesma e Erviti se aproximavam dos alas e de Mouche com suas subidas no losango da meia-cancha xeneize. Era um time com seis títulos e nove finais de Libertadores contra um que a disputava pela primeira vez. Era normal que o começo tivesse postura mais natural dos argentinos.

Sólido defensivamente, o Corinthians não deu chances ao Boca Juniors em nenhum momento da noite, nem mesmo neste começo mais tenso. Os argentinos não tiveram sequer uma situação clara de gol a noite toda. Aos poucos, as escapas de Emerson para cima de Schiavi começaram a se tornar mais frequentes. Foram elas que deram ao Timão o controle do jogo a partir da segunda metade do primeiro tempo. A lesão de Orión abalou um tanto o Boca. Seu choro compulsivo ao deixar o gramado era o retrato da tensão que tomava conta do Pacaembu.

Faltava, porém, companhia para Emerson. Alessandro e Fábio Santos foram muito mais marcadores que apoiadores. Paulinho e Ralf tinham que cuidar de Riquelme. Alex, Danilo e Jorge Henrique, que eram os que deveriam se aproximar, jogavam pouco. Mas bastou que eles se aproximassem do Sheik uma única vez para sair o gol: Alex cobrou falta, Jorge Henrique desviou para o centro da área, Danilo deu de calcanhar e deixou Emerson livre para fazer 1 a 0. Os três, que tanto deviam a Emerson no primeiro tempo, lhe deram o gol. O gol que mudou tudo.

A partir daí, só deu Corinthians. Era impossível segurar. O Boca Juniors, então invicto fora da Bombonera, afamado por ser um time que não se abala fora de casa, sentiu demais o baque. Mais confiante, o Corinthians adiantou a marcação e roubava a bola no campo de ataque. Danilo passou a jogar muito. Alex e Jorge Henrique, sem tanto brilho, eram leões no combate. Do meio para trás, a segurança e comprometimento de todos os jogadores era ainda maior do que já fora em toda a campanha da Libertadores. O 2 a 0, de novo com Emerson, foi a cereja do bolo. Um erro crasso de Schiavi, que não merecia terminar sua carreira com um vacilo justamente em uma final de Libertadores, jogo que tão bem ele conhece.

Poucos títulos de Libertadores na história foram tão merecidos quanto este. O título corintiano marca a volta por cima de muita gente. De Emerson, jogador mais decisivo do futebol brasileiro nos últimos anos (decidiu pelo Flu, na Vila, na Bombonera e hoje), dispensado de forma até hoje mal explicada pelo Fluminense; de Tite, que quase caiu após o fiasco contra o Tolima, no ano passado; da torcida corintiana, que sofreu durante décadas com a gozação não só dos rivais, mas de todo o Brasil, por somente ter mirado, y no tocado, La Copa; e do clube Corinthians, simbolizado na figura do capitão Alessandro, que foi rebaixado à segunda divisão há menos de cinco anos e hoje está classificado para disputar o Mundial Interclubes, através de um trabalho criterioso, de longo prazo, que não se precipitou em demitir seu ótimo técnico após um resultado tão ruim quanto aquele na pré-Libertadores do ano passado.

Em tempo:
- Corinthians é o segundo campeão brasileiro da Libertadores que a conquista de forma invicta. Antes, só o Santos, de Pelé, em 1963 - e isso que entrou já nas semifinais.

- Alex, Fábio Santos e Danilo são bicampeões da Libertadores. O primeiro ganhou também em 2006, pelo Internacional; os outros dois ergueram a Copa pelo São Paulo, em 2005.

- Emerson é o melhor jogador da Libertadores e personagem da final. Mas o nome do título corintiano é Tite. TODOS os jogadores falaram no "grupo" após a conquista, mesmo os tido como mais marrentos. O mérito é todo deste excelente treinador.

Taça Libertadores da América 2012 - Final - 2º Jogo
4/julho/2012
CORINTHIANS 2 x BOCA JUNIORS 0
Local: Pacaembu, São Paulo (SP)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Público: 40.186
Renda: R$ 2.580.912,00
Gols: Emerson 8 e 27 do 2º
Cartão amarelo: Chicão, Leandro Castan, Jorge Henrique, Schiavi, Caruzzo, Mouche e Silva
CORINTHIANS: Cássio (6), Alessandro (6,5), Chicão (6,5), Leandro Castan (7) e Fábio Santos (6,5); Ralf (6), Paulinho (7), Danilo (7,5) e Alex (6) (Douglas, 43 do 2º - sem nota); Jorge Henrique (6) (Wallace, 47 do 2º - sem nota) e Emerson (9,5) (Liedson, 46 do 2º - sem nota). Técnico: Tite
BOCA JUNIORS: Orión (5) (Sosa Silva, 32 do 1º - 6), Sosa (5), Schiavi (4), Caruzzo (6) e Clemente Rodríguez (4,5); Somoza (5), Ledesma (5,5) (Cvitanich, 20 do 2º - 5), Erviti (5,5) e Riquelme (5); Mouche (4,5) (Viatri, 37 do 2º - sem nota) e Silva (4,5). Técnico: Júlio César Falcioni


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