Hegemonia

Nunca houve time igual a este da Espanha. Podemos indicar uma ou duas seleções que preferimos pelo estilo de jogo, pela qualidade técnica, mas sem nunca esquecermos que, atualmente, estamos na Era da Espanha no futebol mundial. Se só Alemanha (1972/74) e França (1998/00) já haviam conquistado a façanha de serem campeãs do mundo e europeia ao mesmo tempo, nenhum outro país conseguiu Euro, Copa e Euro em sequência. Aliás, é a primeira vez que alguém é bicampeão da Euro.

A Espanha fez hoje o que conseguiu, em 2010, contra a Alemanha: na hora decisiva, ela cresce. Isso sempre foi um tabu para os espanhóis, conhecidos por montarem bons times que decepcionavam nos momentos chaves. A superioridade da Fúria contra a revitalizada Itália se deu desde o início do jogo. Os 4 a 0 podem não representar o que foi de fato a campanha espanhola (que longe esteve de ser um passeio), podem iludir em relação à diferença de forças dos dois finalistas (a Itália não é tão pior a este ponto), mas dão conta muito bem do que foi a final.

Xavi estava inspirado. A bola colou nos seus pés como nos seus melhores dias. Isso já foi meio caminho para que a vitória viesse. A primeira chance foi dele, recebendo livre após rápida e objetiva troca de passes, como o mundo todo pedia, e um chute que raspou a trave de Buffon. E a forte marcação e alta velocidade com que o time espanhol trocava passes só prova que quem estava irritado por vê-la jogar tão lentamente em outras partidas tinha razão em cobrar: o time espanhol é mesmo capaz de jogar um futebol encantador e objetivo.

Aos 12 veio o gol. A rápida troca de passes desmontou a defesa italiana. Iniesta achou Fabregas e ele cruzou na cabeça do baixinho Silva. A Itália precisaria sair, e cedo, o que não estava no script. Pirlo trouxe a equipe para cima, mas faltava contundência. Mesmo assim, os italianos tiveram três boas chegadas, duas delas parando em Casillas. Houve jogo no primeiro tempo, portanto. Mas aí Xavi se fez presente de novo: puxou contra-golpe e esperou cirurgicamente o momento em que Alba se projetaria livre, mas em posição legal, para fazer o segundo. Passe de gênio.

O segundo tempo começou aberto. Di Natale, que entrou no lugar de Cassano (que não havia feito mal primeiro tempo para ser sacado) perdeu duas chances em seis minutos. A Espanha também levou perigo por duas vezes. O jogo prometia. Mas Thiago Motta, que recém entrara no lugar do apagado Montolivo, se lesionou aos 14. Itália com um a menos, sem poder substituir. Ali o jogo acabava. Ali a vitória virou goleada, com requintes de crueldade.

A Espanha não precisava provar a ninguém que é um timaço digno de entrar na lista dos maiores da história do futebol mundial de seleções. Mas provou que podia jogar muito bem sendo objetiva e que não necessariamente ter a posse de bola é sinônimo de ser superior. Hoje, teve 47% do tempo com a bola no pé, contra 53% dos italianos. Foi seu menor índice na Euro. Foi, disparadamente, sua melhor partida na Euro.

A Itália levou a maior goleada da história de uma final da Eurocopa, mas sai da Ucrânia muito fortalecida. Chegou sob a desconfiança de todos, mas provou que o trabalho de Prandelli é muito bom e a mística da camisa azul é inabalável. Venceu o timaço da Alemanha nas semifinais e encarou a campeã de tudo Espanha até onde deu. Chegará à Copa de 2014 como candidata.

Eurocopa 2012 - Final
1º/julho/2012
ESPANHA 4 x ITÁLIA 0
Local: Olímpico (Kiev)
Árbitro: Pedro Proença (POR)
Público: 63.170
Gols: Silva 12 e Alba 40 do 1º; Torres 39 e Mata 43 do 2º
Cartão amarelo: Piqué e Barzagli
ESPANHA: Casillas (7), Arbeloa (7), Ramos (7), Piqué (6,5) e Alba (7,5); Busquets (6,5), Alonso (6) e Xavi (8,5); Silva (7) (Pedro, 13 do 2º - 6,5), Fabregas (6,5) (Torres, 29 do 2º - 7) e Iniesta (7) (Mata, 41 do 2º - 6,5). Técnico: Vicente del Bosque
ITÁLIA: Buffon (6), Abate (4,5), Barzagli (5,5), Bonucci (6) e Chiellini (4,5) (Balzaretti, 20 do 2º - 4,5); Pirlo (6), De Rossi (5), Marchisio (4,5) e Montolivo (4) (Thiago Motta, 11 do 2º - sem nota); Cassano (6) (Di Natale, intervalo - 4,5) e Balotelli (5). Técnico: Cesare Prandelli


Comentários

Chico disse…
A Fúria jogou uma enormidade na final. Mais uma grande conquista do carrossel espanhol. Essa seleção está na história dos times que marcaram época.

Obs: e quem marcou o 1º golo? SILVA!