O Super Mario é italiano

É muito fácil cair na tentação de analisar a vitória da Itália apenas pela tradição da seleção tetracampeã do mundo. Ou dizer que é uma touca da Alemanha, afinal, nunca caiu para os germânicos em um mata-mata. Fato é que a Azzurra mostrou mais eficiência e frieza na hora decisiva, e conquistou de forma merecida a classificação à final da Eurocopa, derrotando aquela que ainda é a melhor seleção do mundo no momento.

Quem pega o placar pensa que a Itália venceu porque jogou muito mais no primeiro tempo, mas não foi o caso. A etapa inicial foi equilibrada, e os alemães começaram em cima. Löw arriscou: tirou um jogador de lado de campo (Müller ou Reus, que tão bem foi no último jogo) e investiu em Kroos, para dar mais consistência ao meio de campo. Foi arriscado, pois mexeu em uma estrutura de time consolidada. Embora não tenha sido exatamente por isso a desclassificação.

A Alemanha começou melhor, criando chances e fazendo de Buffon o nome mais importante dos primeiros minutos de jogo. Mas a Itália marcava bem e era mais efetiva. O primeiro gol de Balotelli ocorreu num erro do excelente Hummels, melhor zagueiro da Euro. Saiu de sua posição na área para marcar Cassano, mas foi mole no lance, levou um drible do italiano e deixou Mario livre para fazer 1 a 0. O gol mexeu com a Alemanha, que não tinha mais tanta contundência e sofria para parar o time regido pelo brilhante Andrea Pirlo. O segundo gol de Balotelli foi originado num contra-ataque onde a equipe foi pega totalmente de calça curta. Só que no primeiro tempo isso é inadmissível, mesmo perdendo.

O segundo tempo teve gol da Alemanha, não da Itália, mas foi todo italiano. Os germânicos esboçaram uma pressão, mas não encontravam alternativas diante da sólida defesa montada por Cesare Prandelli. O resultado foi um festival de contra-ataques encaixados, mas desperdiçados pelo time azul. Marchisio, Balotelli e Di Natale perderam chances que a Alemanha não teve na etapa final, de tão claras. No fim, um pênalti premiou o esforço do time de Löw.

Nunca convém desprezar a Itália. Sua tradição pesa muito, mas não joga sozinha. Ao contrário de 2010, a Azzurra chegou à Euro com uma equipe montada, que fizera ótimas eliminatórias, mas vinha em baixo astral por conta de alguns maus resultados recentes, como a catastrófica atuação diante da Rússia. Mas é uma equipe organizada, qualificada, com jogadores experientes e de alto nível. Balotelli leva os louros por ter decidido, mas Pirlo, como em 2006, é o maestro de tudo. Buffon é a segurança. De Rossi, que já foi líbero, zagueiro e volante, hoje chegou a ser meia. Joga em todas - e bem em todas.

À Alemanha, nem é preciso dizer que não se deve jogar todo o trabalho no lixo por conta de uma derrota. Os alemães são mestres nisso, com técnicos que permanecem por décadas no comando da seleção, quando mostram bons trabalhos. Trata-se de um time ainda novo, que aprende um pouco mais com cada tropeço. Tem talento  e uma estrutura tática de sobra, como nenhum outro time no mundo. E, salvo uma mudança de rumos muito inesperada, chegará ao Brasil, em 2014, como favorita ao título mundial.

Em tempo:
- A final da Euro será de algozes alemães: Espanha e Itália eliminaram a Alemanha nas últimas quatro grandes competições que ela disputou, de 2006 para cá.

- Prandelli escalou o zagueiro Chiellini na lateral esquerda na tentativa de bloquear as jogadas dos meias alemães pelos lados. Mal sabia que Löw abriria mão do esquema. Ao menos, ganhou mais altura nas bolas aéreas.

- A Itália deu pinta de campeã, e tem um dado a seu favor: os últimos três times que eliminaram a Alemanha foram campeões. Em 2002, por sinal, deu Brasil - ganhando dos alemães.

Eurocopa 2012 - Semifinal
28/junho/2012
ALEMANHA 1 x ITÁLIA 2
Local: Nacional, Varsóvia (POL)
Árbitro: Stephanne Lannoy (FRA)
Público: 55.540
Gols: Balotelli 20 e 36 do 1º; Özil (pênalti) 46 do 2º
Cartão amarelo: Hummels, De Rossi, Balotelli, Bonucci e Thiago Motta
ALEMANHA: Neuer (5,5), Boateng (4,5) (Müller, 25 do 2º - 5), Hummels (4), Badstuber (4,5) e Lahm (5); Khedira (6), Schweinsteiger (5,5), Özil (5,5), Kroos (5) e Podolski (4) (Reus, intervalo - 5); Gomez (4,5) (Klose, intervalo - 5). Técnico: Joachim Löw
ITÁLIA: Buffon (7,5), Balzaretti (5,5), Barzagli (6), Bonucci (6,5) e Chiellini (6,5); Pirlo (7), De Rossi (7,5), Montolivo (7,5) (Thiago Motta, 18 do 2º - 5,5) e Marchisio (6,5); Cassano (7,5) (Diamanti, 12 do 2º - 5) e Balotelli (8,5) (Di Natale, 24 do 2º - 5). Técnico: Cesare Prandelli

Comentários

Lourenço disse…
Balotelli currador, sensacional.
Marcelo disse…
Acho que já está faltando um título pra esse time da Alemanha. Daqui a pouco vão ficar com fama de time que morre na praia.
Lique disse…
balotelli finalmente teve uma atuaçao decente. se ele tiver umas 15 dessas numa temporada, pode começar a se achar um dos melhores do mundo, como ele sonha. e finalmente sorriu, o marrento.
Lique disse…
aliás, técnico italiano colocou um canhoto na lateral direita, algo que nao via desde que LUXA improvisou RAÚL BRAVO na direita, quando o salgado nao tinha condiçoes.

ps: balotelli, com aquele cabelo, parece mais o YOSHI que o mario.
Vicente Fonseca disse…
MORRI com esse teu PS, Lique.
Prestes disse…
Não só essa Alemanha tem fama de que morre na praia, mas o Bayern, base da seleção, também.