Saudosismo perigoso

Com Renato (7), Grêmio foi bicampeão no inverno gaúcho de 1986
A final do Campeonato Gaúcho terá algum frio, chuva, rispidez e, não fosse a excelente drenagem do Estádio Olímpico, gramado embarrado. Terá também de um lado o Grêmio, de outro o Internacional. Ambos lutarão pelo maior título que podem conquistar no momento, a grande prioridade nesta primeira parte do ano.

O primeiro parágrafo deste texto poderia muito bem ter sido escrito nos anos 50, 60 ou início dos 70. Mas não: o Gauchão 2011 termina retrô. O mês de maio ainda não apresentou seu veranico, mesmo que já esteja na metade, de modo que haverá gente de casaco na Azenha, e quem não estiver poderá saborear chimarrão e bergamotas na frente da TV. Outra: o estadual é o que Grêmio e Inter podem conquistar nesta metade inicial do ano.

Os saudosistas até podem se deliciar por um instante com esta volta rápida ao túnel do tempo, onde o Gauchão era prioridade, onde os jogos eram em gramados enlameados com tempo inóspito. Mas, embora o clima de um domingo decisivo de Gre-Nal seja sempre fascinante porque tenso, trata-se de uma grande derrota que estejamos vivenciando tudo isso. Quem parar para pensar alguns minutos chega com facilidade a esta conclusão.

Se o Gauchão está sendo disputado num domingo frio e chuvoso é porque os estaduais estão cada vez mais longos. Desde 2003, quando foi adotado o novo calendário dos pontos corridos no país, nunca o Brasileirão começou tão tarde: será sábado que vem, 21 de maio. Em 2003, foi 29 de março; entre 2004 e 2006, da metade para o final de abril - talvez o ideal; entre 2007 e 2010, no segundo sábado de maio. Este ano, será no fim de maio. Em 2011, foram 23 datas para os regionais, 60% do total de datas de um Brasileirão. Copa do Brasil e Libertadores ficaram novamente apertadas. E o maior torneio nacional ficará espremido em seis meses e meio, quando deveria ter oito, no mínimo, de duração. Será que há necessidade, por exemplo, que o Grêmio jogue quatro vezes contra o Inter, três contra Cruzeiro e Ypiranga e duas contra o Caxias (12 jogos só contra estes quatro times) para ser declarado campeão gaúcho?

Por outro lado, se ver Grêmio e Inter prometendo dar sangue para saírem com a taça hoje de tardezinha é magnífico, é um sinal de que ambos fracassaram em suas competições maiores. Desde 1999 não vívíamos tal situação: a Dupla disputando o título estadual e o Gre-Nal decisivo como salvação da lavoura de um período de vacas magras. Por isso se pede tanto que aquele que for campeão não se deixe levar pela empolgação da conquista, achando que tudo está sob controle, que ganhar Gre-Nal arruma a casa etc. O vencedor do Gauchão terá, apenas, um clima mais ameno para trabalhar neste período de necessidades. Sentar nos louros da vitória é, além de não aproveitar esta vantagem da tranquilidade obtida com a conquista, uma grande armadilha.

Portanto, nossos votos são que todos nós tenhamos hoje mais um grande Gre-Nal, com emoção, como têm sido os últimos, aliás. Vamos esquecer, apenas hoje, todos os motivos que nos levaram a este quadro. Vamos aproveitá-lo. Mas que, a partir de amanhã, lembremos porque só tivemos o Gauchão para disputar e porque a partida de hoje reviveu os tempos onde nosso estadual era marcado pela intempéries meteorológicas típicas do Rio Grande do Sul. O saudosismo, ainda mais neste caso, é uma grande ode ao atraso.

Definição dos campeões
Além de Ceará, Flamengo e Coritiba, hoje conheceremos os outros campeões estaduais da temporada. Além do Grêmio, o Santa Cruz tem grande vantagem. Vitória, Criciúma e Atlético/MG estão por um focinho à frente na Bahia, em Santa Catarina e em Minas. Santos x Corinthians e Atlético/GO x Goiás é pura indefinição.

Na Europa, definiu-se o último campeonato que estava em aberto: o Inglês, que teve o Manchester United recuperando a hegemonia e superando o Liverpool em número de conquistas (19 a 18), tornando-se o principal campeão do país em todos os tempos. Barcelona, Borussia Dortmund, Porto e Milan também são donos de suas pátrias.

Em Buenos Aires, tarde de superclásico muito mais decisivo para o River Plate (4º, 22), que segue à espreita do Vélez (1º, 27), que para o Boca Juniors (9º, 18). Jogaço na Bombonera.

Foto: Correio do Povo.

Comentários

Rodrigo Cardia disse…
Pior é que, com tanta data, daria tranquilamente para reduzir o número de times no Gauchão e fazê-lo em pontos corridos, turno e returno... E também não teríamos tido aquela polêmica quanto ao Gre-Nal da decisão do 2º turno (a Conmebol não marcaria um jogo do Grêmio na terça já sabendo que ele teria de jogar dois dias antes, visto que a partida do Gauchão estaria marcada há meses).

Mas, entre um Gauchão longo de pontos corridos com Brasileirão espremido, e um Gauchão curto e "formulista" com Brasileirão de oito meses, prefiro sem dúvida alguma a segunda opção.
Júnior Viçosa disse…
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