Jeito de quem chega

O Cruzeiro teve atuação de time que chega para disputar o título. Foi muito melhor que o São Paulo desde o começo, com 11 contra 11. Ignorou o fator local, a necessidade pequena que o tricolor tinha para reverter o resultado do Mineirão, se impôs o tempo inteiro e só não goleou o time de Muricy Ramalho por uma até compreensível displicência nos minutos finais, já que ficou fácil demais.

Eu apostava em classificação são-paulina por três razões: o fator local, a vantagem pequena do Cruzeiro e a ausência de Ramires da esquadra mineira. Pois a equipe de Adílson Batista fez aquilo que um time copeiro e campeão deve fazer: passou por cima das dificuldades. Mesmo que os nomes individuais do São Paulo sejam talvez até um pouco melhores ou mais badalados, hoje o Cruzeiro mostrou que é bem mais time. Entrou com equilíbrio, sem se afobar, jogando com maturidade e frieza, demonstrando que a inexperiência verificada em 2007 e 2008 está definitivamente para trás.

Wagner ditava o ritmo, mesmo descontado. O Cruzeiro trocava passes e criava chances no primeiro tempo, enquanto o São Paulo somente forçava jogadas longas e cruzamentos para a área. É muito pouco. Muricy Ramalho errou feio hoje. Insiste num desgastado 3-5-2, improvisando Richarlyson como zagueiro e mantendo Hernanes no banco em favor de Marlos, que talvez fosse mais prudentemente escalado como opção para mudar o jogo no segundo tempo. A expulsão de Eduardo Costa, descontrolado, jogou tudo para o ralo.

Muricy, então, retirou Washington e pôs Dagoberto no intervalo para tentar a vitória. Não poderia dar certo. Só deu Cruzeiro, o tempo inteiro. O time de Adílson mostrava passagem dos laterais muito eficiente, trocas de passe envolventes e chutes de fora da área. Num deles, Henrique, jogador até bem limitado, encarnou Nelinho por um segundo. Quem acha que exagero, olhe ali na seção "Vídeos", à esquerda deste texto e procure pelo compacto do jogo. Dali em diante, foi um baile. Kléber fez 2 a 0 de pênalti; André Dias, que cometeu o pênalti, ainda foi expulso; o time de Adílson perdeu diversas chances. Raros foram os times que conseguiram humilhar o tricolor desta forma no Morumbi. Não lembro de algo tão forte assim. Lembrando que o São Paulo não perdia mata-mata de Libertadores decidindo em casa desde a final de 1994, quando foi derrotado pelo Vélez Sarsfield nos pênaltis. Difícil prever o que será daqui para a frente, mas a impressão é de que uma era gloriosa esteja chegando ao fim de seu ciclo no tricolor paulista.

O Cruzeiro entra forte nas semifinais, onde fará dois duelos sensacionais contra o Grêmio, nos quais as chances dividem-se em 50% para cada lado. Foram, de fato, os dois brasileiros mais competentes na Libertadores de 2009, e são, por excelência, os dois times mais copeiros do país. Não dá para dizer categoricamente que daí sairá o favorito, pois Nacional e Estudiantes também têm muita tradição e mereceram chegar até aqui. Serão as semifinais mais tradicional da história desta Copa, a única em todos os tempos a reunir quatro campeões, com 5 Mundiais e 10 Libertadores somados (nesta sexta aprofundaremos este assunto). Para um torneio que comemora suas Bodas de Ouro em 2009, nada melhor do que seis jogos finais como estes.

Taça Libertadores da América 2009 - Quartas de final - Jogo de volta
18/junho/2009
SÃO PAULO 0 x CRUZEIRO 2
Local: Morumbi, São Paulo (SP)
Árbitro: Sérgio Pezzotta (ARG)
Público: 52.809
Renda: R$ 1.731.580,00
Gols: Henrique 20 e Kléber (pênalti) 36 do 2º
Cartão amarelo: Borges, Fábio, Jonathan e Gérson Magrão
Expulsão: Eduardo Costa 43 do 1º; André Dias 35 do 2º
SÃO PAULO: Denis (5,5), André Dias (3,5), Renato Silva (5) e Richarlyson (4,5); Zé Luís (5) (André Lima, 29 do 2º - 4,5), Eduardo Costa (3), Jean (5), Marlos (4,5) e Júnior César (5) (Hernanes, intervalo - 4,5); Borges (5) e Washington (4,5) (Dagoberto, intervalo - 5). Técnico: Muricy Ramalho (3,5)
CRUZEIRO: Fábio (6), Jonathan (6) (Thiago Heleno, 26 do 2º - 5,5), Leonardo Silva (7), Léo Fortunatto (6) e Gérson Magrão (7); Henrique (7), Marquinhos Paraná (6,5), Elicarlos (6) (Bernardo, 30 do 2º - 5,5) e Wagner (6) (Jancarlos, 23 do 2º - 5,5); Kléber (6,5) e Wellington Paulista (5,5). Técnico: Adílson Batista (8)

Foto: Eduardo Costa perdeu a cabeça e deixou o São Paulo na mão (AP)

Comentários

Gustavo disse…
Ninguém contrata Eduardo Costa e sai impune.

Gostaria que o Cruzeiro jogasse no mineirão como jogou contra o Inter. Porque se for como foi contra o SPFC, ontem, TCHAUZOTE.
Vicente Fonseca disse…
Eduardo Costa, jogando bola, é um grande jogador. Mas sempre foi meio doido.

Acho que o Cruzeiro dificilmente se impõe neste nível de ontem no Olímpico. Primeiro, porque o São Paulo vem em crise técnica das brabas; segundo, porque o próprio Cruzeiro vinha numa péssima fase fora de casa. Pode crescer a partir da vitória maravilhosa de ontem à noite, mas a tendência recente é sempre de atuações mais fracas. Terceiro, porque o Grêmio é o time brasileiro que há mais tempo não perde em casa. A última derrota foi há nove meses, contra o Goiás. De lá para cá, no Olímpico, foram nada menos que 22 jogos, com 17 vitórias e 5 empates. Dependerá muito do jogo de ida, claro.
André Kruse disse…
é meio que consenso (frase altamente contraditória) que esta foi a melhor atuação do Cruzeiro fora de casa. Nem mesmo contra o Sucre e o Deportivo Quito o time foi tão bem.

Será que repete?

Meu medo maior é o primeiro jogo no Mineirão.

Impressionante como o São Paulo se complica com arbitragens de fora do país
natusch disse…
O Cruzeiro deu um baile no São Paulo ontem, mas a coisa fica menos assustadora se analisarmos as circunstâncias. O dono da casa vem em notável crise técnica, foi mal escalado, apostou sempre nas mesmas manjadíssimas jogadas, teve um jogador expulso e esfacelou-se, além de contar com uma das torcidas mais chatas e corneteiras do Brasil, que ficou o jogo todo ENCHENDO O SACO do time que deveria incentivar. Isso não retira uma vírgula do bom jogo do Cruzeiro, mas serve para colocar o jogo em uma certa perspectiva, digamos.

A grande questão da semifinal é o placar que sairá do Mineirão. Acredito que, se não sair derrotado de MG, o Grêmio garante a classificação em Porto Alegre - sempre falando em teoria, claro. Não acredito em uma partida de exceção do Cruzeiro, nem aqui e nem lá - é um time muito qualificado, copeiro, mas que conquistas as coisas sem surpreender, apostando exatamente na regularidade. O bicho é feio, mas não é esse Godzilla que parte da pessimista (agourenta?) imprensa gaúcha está querendo pintar.